Não deixa de ser ingrato, trabalhar durante meses e meses, desenhar, produzir protótipos, fazer testes, e no fim, …os pescadores não aprovarem os modelos lançados.
Isso acontece a marcas muito conceituadas, algumas delas com provas dadas no mercado, mas que, por alguma razão que a razão desconhece, não obtêm sucesso.
Devem considerar que quem produz este tipo de artigos de pesca não o faz para um mercado restrito, antes trabalha no sentido de conseguir uma certa universalidade.
O ideal é que os modelos sejam eficazes aqui em Portugal, na Austrália e no Brasil. Não é fácil. Por vezes, …não corre bem.
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Procura-se produzir algo que seja eficaz perante o maior número possível de chocos... |
Dizer que uma marca ou modelo são muito eficazes, ou não, implica sempre definir onde. Em que país?
Em Portugal temos uma tradição bastante vincada de pesca ao choco, e sabemos fazer. Temos entre nós excelentes pescadores, muito sabedores do oficio.
Se há uma centena de anos a questão da fabricação nem se colocava, (eram as piteiras feitas em chumbo derretido. com alfinetes embutidos de pontas reviradas, enroladas em linha branca e vermelha, e ponto final), hoje em dia as coisas mudaram muito e a pesca do choco já movimenta uma verdadeira indústria.
Diferentes tamanhos, cores, velocidades de queda, modelos de agulhas, etc, etc. Tudo está diferente, e se algum lamento existe esse tem a ver com os chocos: são muito menos.
Há ainda a considerar a questão da técnica utilizada, a qual em Portugal se resume a uma passagem relativamente pouco activa sobre os pesqueiros, no fundo deixa-se passar o barco “à rola” em cima dos locais onde presumivelmente haverá chocos, enquanto que no Japão é muito mais activa, o choco é muito provocado por um efeito de pesca a que se chama de “darting”.
Este sistema de pesca é bastante utilizado em fundos baixos, a não exceder os 5 metros de fundo, cota que entre nós é muito pouco explorada. Aquilo que nos é comum é pescar entre os 10 e 20 mts de fundo, e daí a necessidade de chumbos de lastro.
Os japoneses pescam bastante a partir de terra, algo que nós não fazemos muito.
Cá chegará...
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Esta série da Daiwa não teve êxito. A ideia da cabeça articulada era boa mas por algum motivo não resultou nas nossas águas. |
Assim sendo, é difícil que um mesmo tipo de toneira resulte para toda a panóplia de técnicas, lugares, e espécies de cefalópodes.
Haverá amostras mais universais que outras, mas não haverá uma que resulte sempre e em todo o lado.
Devemos entender também que quem fabrica pensa em primeiro lugar naqueles que lhe estão próximos, os clientes japoneses, na circunstância.
A seguir estarão todos os outros consumidores, que por vezes só têm acesso aos produtos alguns anos depois deles serem lançados nos países asiáticos.
A GO Fishing Portugal procura fazer com que a disponibilidade de stock corresponda ao mês de lançamento no Japão. Sai lá e sai aqui, quase ao mesmo tempo.
A quantidade de gente que adquire toneiras para chocos é assustadora e isso é geral, não é só entre nós que o fenómeno se verifica.
Vejam abaixo o interesse que as pessoas dedicam ao tema, mesmo no Japão.
Por estranho que vos pareça, os pescadores compram catálogos de pesca, e deles apenas querem ver aquilo que existe de novo na área da pesca de cefalópodes: as canas, os carretos, as linhas, as toneiras e as piteiras. Vejam abaixo o preço de um catálogo em feira, na circunstância da Daiwa: 300 yenes.
A simpática e bonita japonesa não dá mãos a medir a vender catálogos aos interessados.
Quando falei com um dos maiores especialistas mundiais de pesca de cefalópodes, (vou contar-vos algo no próximo número do blog) ele dizia-me às tantas que a maior evolução registada nos últimos anos nem tem sido nas toneiras em si, mas sim nas piteiras, o chumbo de lastro que também pesca chocos e lulas, por ter igualmente agulhas.
Posso mostrar-vos abaixo algumas da novidades neste área:
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Esta série evoca as ancestrais peças de fabrico artesanal fabricadas com um arame, uma alma em chumbo e a seguir cobertas com um tubo em madeira. |
A piteira, ou seja o elemento que faz de peso, (entre nós utiliza-se uma chumbada, por ser mais barato, mas a chumbada não pesca, é apenas um elemento neutro, enquanto que os japoneses querem que esse peso também pesque, que contribua para fazer duplas de chocos, etc…) é uma unidade activa, e não passiva, conforme se pesca em Portugal.
É verdade que a chumbada bate no fundo, e que em caso de enrocamento fica lá. Mas as pessoas não pescam chocos em fundos de pedra partida, pescam sim em areais onde os chocos abundam. Por isso, a questão do encalhe é uma falsa questão. As toneiras para chocos também encalham por vezes e não é por isso que não se utilizam...
Gostava de vos chamar a atenção para um detalhe que me parece importante, e que muita gente desconhece: a questão da marcação de peso que as piteiras trazem gravada.
Na Europa, nós trabalhamos com gramas. É ponto assente que o sistema vigente é a grama, e isso esbarra contra a unidade de produção daqueles que produzem as ditas piteiras.
Porque eles trabalham em GOU`s, uma medida que ainda hoje é trabalhada pela maioria das fábricas japonesas.
Daí que possam ver na figura abaixo a unidade de “20”, a qual corresponde a 75 gramas, e a de “25”, a qual corresponde a 95 gramas.
Ainda existem algumas unidades destes modelos de piteiras à venda na GO Fishing, embora a tendência seja para um rápido desaparecimento. É francamente difícil conseguir obter este tipo de material no Japão, dado que a produção é escassa, a procura interna muita, e além de tudo, trata-se de uma peça relativamente barata, ao preço de uma toneira, mas que pela sua natureza, é um peso, incomoda muito no custo do transporte aéreo.
Vou dar-vos conta de uma outra novidade em piteiras para chocos no próximo número.
A seguir...
Vítor Ganchinho
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