ESCREVER PARA UM BLOG DE PESCA

Os artigos que escrevo para o blog não são, nem o poderiam ser pela própria natureza daquilo que é um blog, (um espaço de mensagem curta, de rotina), algo muito exaustivo, de grande espectro.
Não escrevo livros, escrevo artigos curtos. 
Mas creditem-me o facto de serem coerentes, de haver uma linha de raciocínio, uma coerência formal.
Ao fim de cinco anos de publicação sucessiva, com um arco temporal que para aqueles que seguem este blog desde o início já será significativo, ainda assim há algo mais a dizer.
Parece que o tempo não conta mas artigo a artigo, já são muitas centenas. Acima de mil e duzentos artigos, note-se.


Costumo desvalorizar o que faço mas este trabalho não será apenas um amontoado de letras, de linhas e pontos avulsos, gravados ao Deus dará. Antes expressa ideias, sentimentos, e tem em si muito mar, milhares de horas de água.
Escrever sobre experiências vividas em ambiente marinho não é o mesmo que lançar ideias vazias, avulsas, pela janela. Isso encontramos nessa literatura de cordel das redes sociais, onde cada um verte aquilo que quer, da forma que quer, sem responsabilidades de maior. Francamente escreve-se muito, mas não necessariamente bem...
Ainda assim, tudo, mas mesmo tudo, de bom e de mau, com e sem qualidade, pode ser lido em formato rectangular, espartilhado entre quatro cantos. 
E o busílis da questão é mesmo este, o formato em que hoje se lê. Formato janela, ângulos retos. 
Se alguma semelhança existe, é apenas a de que uma janela de linhas retas, direitas, não é muito mais que o formato de um computador, de um tablet, um telemóvel.
As minhas ideias são vistas assim, de uma forma rectilínea, entaladas entre ângulos rectos, ainda que seja uma incongruência querer transformar o mar, os peixes, paisagens e cenários naturais, água e vento, em algo que possa ser contido num formato tão austero quanto uma linha recta, um rectângulo, o que seja.
Sinceramente procuro sair dessas formas direitas, formas frias e cinzentas, e fazer a apologia dos dias alegres, dos dias bons, dos grandes momentos de pesca.
Embora saiba que para um pescador os dias de sucesso são apenas uma hipótese, enquanto que os dias maus são uma certeza.

Esta garoupa vive num aquário, entre linhas rectas, bem longe do seu habitat natural, dos espaços abertos onde era um peixe livre. 

Nós pescadores vivemos bem com isso, aguentamos bem os nossos dias maus porque sabemos que entre eles, um dia bom virá. E isso chega-nos.
Aguentamos porque sim, porque é isso que nos corre nas veias, aguentar, ser resistente. Ter a tenacidade de suportar tudo o que de mau nos acontece. 
Aguentamos como quem remenda redes rasgadas e as lança de novo ao mar com coragem, com bravura, porque essa é, para um pescador, a sua única e possível demonstração de resistência, de carácter, de firmeza, a única que tem à mão.
Remenda e vai….


Vítor Ganchinho


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2 Comentários

  1. Boas tardes é com muito gosto que leio os seus artigos muito bem escritos e com uma visão da pesca na qual me revejo e tudo o que fala do seu amigo Luís Ramos é mais que verdade é um sr que sigo e que tenho aprendido muito com as suas explicações simples tanto em ato de pesca como a nível de montagens é um Sr da pesca
    Continue com os seus blogues por muito tempo felicidades forte abraço

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    1. Bom dia. A ideia é sempre a mesma, é dar-vos a possibilidade de ler algo escrito sobre uma perspectiva diferente.
      Há muita gente a escrever sobre pesca, mas, na minha modesta opinião, centram o foco de interesse daquilo que fazem no resultado, que muitas vezes não é mais que um pífio balde de peixes, ou um lava-loiças repleto de peixinhos que deveriam motivar alguma reflexão....

      Estamos cá para os grandes, para peixes adultos que são espertos, que nos desafiam, que nos obrigam a ser cada vez melhores.

      Pescar com o Luis é toda uma experiência boa, por haver pontos de interesse que vão muito para além de haver ou não haver peixe.
      Tecnicamente ele está ao nível dos grandes, e nós só temos de aproveitar o facto de o termos.

      Quando pesco com ele, eu funciono como uma esponja, absorvo tudo!
      Depois adapto ao que faço...


      Grande abraço!
      Vitor




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