Não pensava voltar ao assunto, mas dos contactos recebidos percebi que faltavam mais algumas palavras sobre este tema. E sim, tenho algumas curiosidades para vos contar sobre este peixe.
Da mesma família dos lírios, ou não fosse um dos representantes dos seriolas, o king fish, ou Yellowtail amberjack, ou para os japoneses Hiramasa, este pelágico é um predador muito activo, muito forte, que vagueia pelas correntes à procura de alimento.
Procura cavalas, lulas, camarões, peixe-agulha ou sardinha, e não é comum nas águas angolanas.
O Luís Ramos, que pesca de forma intensiva há 12 anos em Benguela, terá muitos milhares de peixes capturados e tem apenas dois yellowtails no seu registo, o que diz bem da sua raridade.
Curiosamente, é um peixe muito vulgar nas águas da Nova Zelândia, onde é um alimento tradicional dos Maori, tribos de onde são originários os superatletas da equipa nacional de râguebi, os All Blacks.
Atribuem-lhe um valor elevado pelas suas capacidades de resistência e luta, (eu bem o senti durante alguns minutos….), mas não tanto às suas qualidades gastronómicas.
Os primeiros colonizadores europeus da Nova Zelândia tinham-nos mesmo como um peixe de sabor insípido, áspero. Alguma razão teriam pois no consumo humano, está associado à ocorrência da síndrome de Haff, conhecida popularmente como "doença da urina preta".
Esta estranha doença, que se designa de rabdomiólise, e leva o paciente a ter fortes dores, rigidez muscular, falta de ar, dormência , … já ocasionou mortes. De resto é isso que lemos quando consultamos o significado desta palavra: Rabdomiólise é uma síndrome de destruição do músculo esquelético com vazamento do conteúdo muscular, frequentemente acompanhada por mioglobinúria, a qual, se for suficientemente grave, pode levar à ocorrência de insuficiência renal aguda com transtornos metabólicos potencialmente letais.
É caracterizado pela urina escura, por causa da absorção pelos rins de proteínas concentradas.
Os profissionais de saúde ainda não conhecem a causa da doença, mas creem que esta espécie se alimenta de pequenos peixes que ingerem algas com toxinas, as quais causam necrose muscular em humanos.
Felizmente quando fui jantar a casa do Luís e da Carla, o jantar foi outro, uma magnífica cataplana de garoupa, antecedida de uma resma de cavacos fresquíssimos….
Come-se bem em Angola (e ainda melhor em casa do Luís)!
Embora o tamanho seja simpático (o Luís diz-me que foi o maior que viu em Benguela…), estará muito longe dos recordes desta espécie, com peixes de apenas 12 anos de idade, a raiar os 2.5 mts, para cerca de 96 kgs de peso.
Será pois um peixe de crescimento híper rápido. São descritos na Nova Zelândia como comedores de …aves marinhas.
Posso ainda dizer-vos que o seu nome científico encera uma curiosidade: o seu registo é Seriola lalandi e foi formalmente e oficialmente descrito em 1833 pelo zoólogo francês Achille Valenciennes.
Fê-lo a partir de espécimes-amostra enviados pelo naturalista e explorador Pierre Antoine Delalande. Em homenagem a quem lhe enviou alguns exemplares deste peixe, recebeu o apelido de Monsieur de Lalande.
Já o termo seriola advém da forma diminuta feminina de seria, um grande pote de barro.
Para que conste…
Vejam o vídeo:
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Vítor Ganchinho
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Foram poucos, mas esse é um caso raro de trofeu. Parabéns Vitor.
ResponderEliminarObrigado! Este foi um peixe surpresa, não estava à espera.
EliminarOs japoneses têm-nos em abundância, e ao que parece são muito valorizados por aquelas águas.
Não deixa de ser curioso que cresça até aos 2,5 mts, em 12 anos, para perto de 100 kgs.
O comportamento é basicamente o de um lírio, e desses nós temos muita experiência nas nossas ilhas. Os que aparecem por cá são curtos, embora eu tenha visto uns quantos maiorzinhos este ano, já em Maio, em Sesimbra.
Abraço
Vitor
Na cidade do Cabo na Africa do Sul apanha-se muitos destes peixes Yellow Tail
ResponderEliminarPesquei muitos lá mas de kayak.
Muito bom para comer.
Sim, faz sentido. Eu cacei alguns a fazer caça submarina em S. Tomé e Príncipe, num ilhéu chamado de "Boné do Jockey", assim designado porque o rochedo tem mesmo a forma de um boné.
EliminarMas eram mais pequenos, na casa dos 3 a 4 kgs.
Estes peixes quando muito grandes fazem-me lembrar os lírios que se pescam nas Selvagens. São assustadores de grandes, e um osso muito duro de roer para quem os tenta com linhas finas...
Abraço
Vitor