NA PISTA DE UM FANTASMA... CAP I

Um atum é um oponente temível, poderoso, com força. Com excesso de força...
Chega a ser perigoso se subestimado, se confundido com qualquer outro peixe das nossas águas. 
Não, um atum não pode ser trabalhado à cana como se fora apenas uma cavala comum mas um pouco maior. Não é disso que se trata. 
Dada a potência que esta espécie consegue desenvolver, e tendo em conta a resistência física que é seu timbre, este é um peixe que, não levado a sério, nos pode fazer mesmo muito mal ao nosso corpo. 
Mas, ....seremos nós capazes de o ter preso na ponta da nossa linha?
Há reais chances de o conseguirmos pescar?

Excesso de força. Estes peixes são pesados mas conseguem elevar o seu corpo acima da linha de água. Reparem na proximidade à Serra da Arrábida....



A verdade é que sim. 
Com alguma persistência, com empenho, trabalho e tempo, acabamos por ser capazes de cruzar as nossas amostras com a presença deles. 
Mas mesmo assim nada garante que um atum ferrado seja um atum encostado ao barco. Até ao último e derradeiro segundo a sua captura nunca é garantida. 
Talvez por isso mesmo este peixe exerça sobre os pescadores um tão estranho fascínio, uma atracção difícil de explicar. 
Bem sei que se trata de um peixe que está fora do imaginário da maior parte dos pescadores nacionais, e a razão prende-se sobretudo com a robustez e qualidade dos equipamentos necessários para levar a bom porto a sua captura. Implica sempre fazer um investimento em material específico. 
Não vale a pena pensar que se pode fazer com o equipamento dos sargos, isso não. 
Ou vamos "forte e feio", ou nem vale a pena ir. Não há “desenrascas” neste tipo de pesca, ou é ou não é, ou temos material pesado e grosso, ou nem devemos tentar porque apenas estaremos a picar peixes nobres que merecem bem mais. 
Vejam o alvoroço gerado pela sua chegada próximo da superfície.

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade. 

O material de pesca ao atum existe, na GO Fishing Portugal em Almada existe permanentemente em stock, e não, não serve para mais nada que não seja pescar estes mastodontes do azul. 
Bem sei da apetência que há de adquirir o mínimo: uma cana que dê para fazer jigging, para fazer spinning, para fazer surfcasting, pesca "pica-pica" e também para os atuns...
Isso não existe. 
Para a maioria daqueles que leem estas linhas, um atum é por isso mesmo algo surreal, uma impossibilidade física, algo que se sabe que existe mas com o qual nem é bom sonhar. 
E todavia...



Faça-mos um ponto prévio. 

É obrigatório dizer que aquilo que motiva milhares de pescadores a sair de casa são normalmente coisas bem mais terrenas: são os chocos, são os pequenos peixes de fundo, os besugos, as choupas, as sarguetas, uma ou outra dourada, um parguinho distraído e muitas cavalas e carapaus. Toneladas de cavalas e carapaus. Em suma, toda a sorte de habitantes da primeira centena de metros de profundidade da nossa costa. 

Faz sentido. 

Mas os atuns existem e estão próximos de nós. Vejam como é perto da costa da Arrábida: 

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade. 


Bem sei que o pescador comum é alguém que aceita aquilo que o mar lhe dá, sem reclamar. Faz limonadas se a natureza lhe dá limões, ou seja, grelha carapaus se não consegue robalos, faz uma caldeirada de safio se não consegue um bom pargo para o forno. 
Mas há mais coisas por aí. 
Mesmo nessa primeira capa de água, aparecem esses intrusos vestidos de azul que não aceitam as “ofertas” das triviais minhocas, casulos, lingueirão e ameijoas,...
Recusam-nas por não pertencerem ao clube daqueles que comem miudezas. Procuram sim os grandes bancos de peixe vivo: carapau, cavala, sardinha, mesmo as omnipresentes lulas, e é deles que se alimentam. 
Porém, saciam a sua fome nos mesmos sítios, patrulham as mesmas localizações, vão aos mesmos pesqueiros onde a gente do “pica-pica” vai. Os sítios são os mesmos!
São exactamente os mesmos onde o pescador comum arranca do fundo, à força de vigorosas maniveladas de carreto, alguns peixes para comer em casa. 
E inevitavelmente os “encontros imediatos” sucedem-se. 
Tenho dias de ver os cardumes de atuns a comer à superfície mais de uma dúzia de vezes....e não serei o único que os vê. 


É impossível que os outros barcos não encontrem também os cardumes de atuns....


A grande questão é: podemos ir pelos atuns com algumas possibilidades de êxito, ou devemos ficar-nos pelos peixes miúdos?
Se quisermos aventura, se quisermos excitação, se procuramos uma descarga forte de adrenalina, então os atuns, sem dúvida.
Mas caso a ideia seja apenas a de conseguirmos alguns peixes para grelhar, então a opção será inevitavelmente outra. 
Podemos assumir sem grande margem de erro que a maioria das pessoas que pesca o faz para passar algum tempo na natureza, para se distrair, mas também para trazer para casa ...comida. 
Não vem mal ao mundo por isso. Afinal de contas há apenas uma minoria que sai ao mar para concretizar lances que ultrapassam em muito aquilo que são “peixes para comer”. 
Ninguém vai pelos atuns com o objectivo de os comer. 
Nem seria razoável que o fosse já que se trata de um peixe que, após uma luta intensa, dura, terá como fim uma foto e uma libertação anunciada. 
A compensação de quem termina de forma positiva o combate não é mais que trazer à superfície um adversário nobre, forte e que pode deixar-nos as costas e os braços num mísero estado. 
E o inigualável sentimento de vitória que nos fica depois de terminada a peleja. Isso sim!

Que nunca nos falte mar….porque razões para medirmos forças existirão sempre. 
Pelamo-nos por desafios, por medir forças!

Continuamos no próximo número. 


Vítor Ganchinho


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2 Comentários

  1. Boa tarde,

    Excelente artigo e imagens espectaculares desse atum ao largo da Arrábida!

    Cumprimentos,
    Duarte

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    Respostas
    1. Boa tarde Duarte É muito difícil conseguir imagens dos atuns porque eles só nos dão alguns segundos de visibilidade.
      Aquilo que tenho visto é uma quantidade anormal de atuns na nossa costa, alguns mesmo à saída de Setúbal e Sesimbra, junto à serra da Arrábida, (a costa cai abruptamente, faz um declive muito pronunciado para os 100 metros e eles encostam), e uma imensidão de "caças" à superfície.

      A questão é que estas coisas podem acontecer a qualquer momento, e em qualquer parte. Porque nós estamos a pescar e não temos o telemóvel sempre na mão, o tempo de reacção é muito curto, inferior a 10 segundos....

      Já tive muitas dezenas deles a 20 metros do barco, ( sem equipamento pesado nem vale a pena tentar porque partem tudo!), e já me saltou um matulão acima dos 150 kgs quase ao lado. Este último fez dois saltos seguidos, e era um calmeirão que levantou um cachão grande....

      A GO Fishing tem material para eles em stock e será sempre uma questão de tempo até as pessoas quererem medir forças...



      Abraço
      Vitor

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