A BARBELA DE UM ANZOL - CAP II

O afiamento dos arames.
Este pode ser um dos maiores dilemas de um fabricante de anzóis!!
Uma ponta muito afiada é necessária para penetrar as cartilagens, ossos e músculos bocais do peixe. Sobretudo em pescas onde a acção do peixe é determinante, o caso do spinning ou do jigging, técnicas em que o primeiro contacto pertence ao nosso opositor, o facto de termos uma ponta bem aguçada facilita-nos a vida.
Todos sabemos o que acontece quando assim não é: sentimos uma pancada mas não há sequência, o peixe vai embora.
Porém, uma ponta demasiado afiada pode trazer-nos problemas de continuidade de pesca. A médio prazo, após alguns peixes, ou até algum eventual contacto com a pedra, a ponta que tão bem nos serviu nas primeiras capturas começa a não funcionar. E porquê?!
Porque, e isso pode facilmente ser visto recorrendo a um microscópio, de tão afiada a quisemos, a finíssima e frágil ponta acaba por entortar, criar um ressalto, uma rebarba, e assim passa a ser um factor de instabilidade.
Pura e simplesmente não espeta, não perfura. O anzol fica rombo, ou pior que isso, fica com a ponta dobrada.
A partir daí, as decepções irão suceder-se.


Vamos ver o que se passa em termos técnicos.
A porta de entrada de um anzol é a distância que vai da sua aguçada ponta à haste oposta, aquela a que ligamos a nossa linha.
No meio, entre um e outro lado do arame de que é feita a peça, cabem todas as nossas esperanças, a vontade enorme que temos de ter sucesso, de conseguir pescar algo.
Esse espaço interior é aquele que irá ser ocupado por alguma porção de peixe, supostamente pela sua boca, (não terão conta os peixes que trazemos ao barco ou arrojamos a terra e que malogradamente acabam por ser capturados pelo dorso, pela barriga, por uma barbatana...), e isso inclui pele, músculo, osso ou cartilagem.
O nosso anzol pode reter um peixe ao prender por qualquer lado, mas vamos concentrar-nos na boca do peixe e em toda a sua complexidade.
Há peixes de lábios carnudos, macios, e há peixes de bocas rijas, com muito osso e até dentes rombos, nos quais é muito difícil a um anzol conseguir penetrar.
Sabemos ainda que é nas comissuras da boca, na zona de articulação dos dois maxilares, que se encontra normalmente a musculatura onde o nosso anzol penetra mais facilmente.
Nem sempre o conseguimos e até ver isso não depende da nossa vontade mas sim das contingências da própria pesca, da vontade e ímpeto do peixe em levar a isca consigo.
Necessitamos ainda assim que a ferragem seja efectiva, que a barbela passe o ponto crítico de “não retorno”.

Esta é uma boca coriácea, dura, em que apenas os lábios carnudos garantem uma fácil penetração. Tudo o resto é duro como aço.

Não nos vamos deter na questão dos tamanhos e números de anzol já que isso para o caso é irrelevante, mas podemos pensar que quanto menor for essa distância, ou medida entre haste e ponta, menos carne, ou osso, ficarão presas nesse anzol.
E isso tem uma importância acrescida já que a dada altura será precisamente esse factor o que nos vai ou não dar o peixe.
Não tentem pescar peixes muito grandes com anzóis demasiado pequenos porque aquilo que irá acontecer é que a pressão exercida sobre uma pequena porção de pele a dado momento será demasiada e....rompe.
O mesmo se passa com cartilagens fracas, (vejam o caso dos carapaus, que tanto rasgam a boca).
Muitas vezes não damos conta de que estamos a perder peixes sucessivamente por estarmos a insistir num anzol demasiado pequeno.
Mudar para um número acima pode ser o suficiente para mudar o jogo....
Já se o peixe em questão tiver uma boca firme, dura, (o caso dos pargos, as douradas, os pampos, os sargos, por exemplo) um pequeno anzol chega e sobra.
De notar que, por princípio, um anzol mais pequeno será sempre mais facilmente engolido que um grande....


Também pode acontecer que o fabricante de anzóis nos queira dar uma mão, desenhando uma barbela de dimensão mais pequena, quase sempre suficiente para não termos de abdicar do efeito de retenção, sem termos de prescindir de uma mais fácil ferragem.
Outros procuram ainda colocar a barbela rebaixada em relação ao posicionamento normal desta, assumindo que a ponta afiada da agulha do anzol penetra assim mais facilmente até um ponto em que já temos alguma tracção sobre o peixe. O resto fica ao cuidado deste, e dos esticões que inevitavelmente irá dar e que no caso irão fazer o anzol penetrar um pouco mais, o suficiente para garantir a captura.
Não há peixes que aceitem ser capturados sem se debaterem, certo?
Quando fazem força para o fundo, em sentido contrário ao que estão a ser puxados, mais não fazem que ajudar-nos a cravar o que falta do metal.

Em resumo, a questão que cada pescador tem de resolver por si é a seguinte: “deverei dar prioridade à ferragem, aceitando utilizar anzóis afiados mas sem barbela, e eventualmente perder alguns no caminho até mim, ou prefiro garantir que, pese embora vá perder alguns toques, aqueles que ferrarem irão mesmo chegar-me às mãos”?

A cada um a sua resposta, a sua decisão pessoal.


Vítor Ganchinho


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