ÁGUAS TURVAS - DE QUE FORMA AFECTAM OS PEIXES? - CAP II

No número anterior enumerámos alguns dos factores que induzem a que tenhamos águas turvas.
Aconselho a ler, para que possam entender o que se segue.
Vamos hoje ver quais as consequências directas dessa falta de visibilidade, em que sentido a água turva reduz o potencial de caça de um peixe predador.
Podemos avançar já com uma delas: a visão deixa de ser o sentido prevalente, o mais decisivo, e passam a ser outros sentidos, um deles ou o conjunto deles, (a audição, o olfacto, a sensível linha lateral), a tomar conta das operações de caça.
A importância de saber isto? Tudo aquilo que limita a performance física dos peixes afecta a nossa capacidade de os pescar.

Um peixe magnífico, o nosso robalo selvagem. 


Quando a água perde sua transparência devido à presença massiva de partículas sólidas em suspensão, isso dificulta sobremaneira a captura de alimento.
No caso de predadores que perseguem presas e por isso dependem essencialmente da sua visão, se este sentido falha, os restantes órgãos do peixe continuam a receber estímulos físicos e químicos do ambiente, mas não são por si só decisivos quanto à eficácia de caça.
O robalo pode cheirar o pequeno peixe, pode ouvir os ruídos, ou pode mesmo sentir a turbulência dos seus movimentos, mas continua a não conseguir ver onde está.
Este ponto parece-me importante: se conseguem facilmente aproximar-se dos seus alvos utilizando os sensores de vibrações/impulsos recebidos através da sua linha lateral, se os entendem à sua frente, já quanto a conseguir capturá-los...
Quando há limitações de acuidade visual, a percepção que os predadores têm do posicionamento das suas presas é menor, e a consequência directa disso é uma mais elevada quantidade de ataques falhados.
Ter boa visibilidade ajuda sobremaneira: não só a preparação do ataque ganha em precisão como a velocidade de execução pode ser muito superior.
Para surpreender uma presa, também ela dotada dos seus argumentos naturais, e que obviamente quer escapar, o factor surpresa é fundamental.
Quando as condições não estão reunidas, quando se perdem oportunidades sucessivas, isso resulta em menor eficiência alimentar.
Por outras palavras, o peixe pode passar fome, logo é forçado a mudar as suas estratégias de caça.

Em certas condições de mar, pode ser virtualmente impossível conseguir pescar a partir de terra. Aqui não adianta lançar uma amostra.

Quando, por força de águas tapadas, turvas, a distância útil de ataque do robalo é substancialmente reduzida, a sua eficácia fica reduzida a um mínimo, e isso obriga a uma mudança de estratégia alimentar.
O espaço de tempo que o robalo tem a sua vítima à frente, em que esta lhe é visível, é de tal forma curto que não há espaço para mais que um esboço de ataque. E que por falta de condições falha muitas vezes.
Falhar ataques sucessivos significa um dispêndio de energia inútil, uma perda da energia armazenada, presumivelmente também de gorduras, e por isso os predadores são forçados a mudar de táctica.
Derivam então os seus interesses de presas rápidas, nervosas, mais susceptíveis de poderem escapar, para outras mais lentas, de capacidade de manobra mais reduzida, com baixa probabilidade de fuga, em suma, mais fáceis.
E é assim que os predadores se tornam menos selectivos na escolha do seu alimento. À força.
Um exemplo prático: em vez de tentarem capturar as nervosas galeotas, ou as rápidas cavalas, os robalos tentam encontrar o caranguejo pilado, as lulas, os chocos, os camarões, ou mesmo anelídeos, as ditas minhocas.
Todos eles bem mais lentos e acessíveis, mas que podem existir na região, ...ou não.
Quando pescamos robalos de estômago vazio, isso é um bom indicador de presumível falta de abundância de potenciais presas....

Esta é uma presa fácil para um robalo: o caranguejo pilado.

Ainda estamos longe do fim, vamos continuar no próximo número do blog.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال