ÁGUAS IMPRÓPRIAS PARA PESCAR - CAP IV

Terminamos hoje esta série, e gostaria de vos evidenciar que em Portugal, se haverá casos de lesa património, gente que não tem o menor cuidado com a preservação da qualidade das águas, gente que utiliza o mar como um vazadouro de lixo e é lá que joga os seus detritos, ainda assim teremos uma qualidade média de valor elevado.
Basta olhar à nossa volta e facilmente podemos ver que temos muito mais a agradecer que a reclamar. É a minha opinião...
A qualidade da água do mar é na sua generalidade boa.

É muito comum que os navios petroleiros que nos visitam lavem os seus porões quando saem dos nossos portos. Fazem isso dentro dos nossos estuários, à vista...de dia.

Já aqui vos disse anteriormente que não é indiferente de todo que a água tenha ou não tenha visibilidade.
Em função das características da água, da quantidade de partículas sólidas que se encontrem em suspensão, assim os peixes têm, ou não, a possibilidade de optar por este ou aquele tipo de alimento.
Mas há mais: as partículas em suspensão absorvem o calor da luz do sol, fixam esse calor, e por isso a temperatura de águas turvas é mais quente que a de águas limpas.
E daí, perguntam vocês?!
A questão é que o aumento da temperatura leva à diminuição da concentração de oxigénio dissolvida na água. Menos oxigénio menos disponibilidade para correr atrás das nossas amostras!
A taxa de digestão de alimentos ingeridos pelos predadores baixa, e por isso eles são forçados a baixar o seu metabolismo, a alimentarem-se menos. Sigam o meu raciocínio: todos aqueles que pescam indistintamente em água salgada ou água doce sabem que quando visitam no Verão uma barragem de águas muito carregadas de sedimentos, as dias “águas barrentas”, sabem que os peixes comem durante a noite, e às primeiras e últimas horas do dia. Ou seja, quando a temperatura da água está mais baixa.
Aquilo que as carpas, os barbos, os axigãs, etc, fazem é alimentar-se enquanto a água está mais fria, descendo aos fundões, às termoclinas mais frescas durante as horas de maior calor. Certo?
Também no mar, em águas mais rasas, quando há uma sedimentação exagerada em suspensão, seja do tipo que for, desde que com partículas sólidas, a temperatura sobe e os peixes passam a alimentar-se na maré alta.
Isto porque a maior quantidade de água, mais metros de profundidade, permitem um menor aquecimento, logo uma taxa de oxigénio superior. Também se verifica um aumento de actividade alimentar durante a noite, pela mesma razão.

Quem pode adivinhar o que se passa por detrás deste olho? O robalo será sempre um peixe enigmático para nós...

E de que forma podemos utilizar este tipo de informação, quando pescamos?
Gostaria que pudessem deduzir por vós, mas vamos ver:
Como consequência da sedimentação e presença de partículas na água do mar, os peixes não ficam apenas com o ónus de terem de proceder à limpeza sistemática das suas estruturas branquiais. Com muito poalho em suspensão, é natural que a cada respiração possam ficar com partículas presas nas guelras. Eles têm um outro problema de difícil resolução: são obrigados a ver onde dificilmente se pode ver.
Em águas sujas, eles são obrigados a encontrar o padrão de contraste que as suas presas fazem em relação ao fundo, ou à água circundante. Têm de adivinhar a que se parecem os alevins que procuram....
Quando muito fundos, e por força dos ténues alores de luminosidade que passam as partículas, a escuridão impera. Imaginem como poderão eles ver a nossa amostra se ela lhes passar muito rapidamente ao lado.
Para piorar a situação, o pescador que não tem toques nenhuns resolve tentar recolher linha muito mais depressa. Ora isso impede por completo o robalo, ou outro predador, de conseguir programar um ataque.
Não terá sequer tempo de perceber o contraste de brilho entre a amostra e o fundo, porque tudo dura apenas uma fracção de segundo. A amostra passa e vai....
Com águas tapadas, este contraste, a ser feito por objectos mais claros ou mais escuros (não esqueçam isto, mais escuros!), é determinante para que sejam visíveis. Mas o peixe precisa de tempo.
Já perceberam onde quero chegar: recolham a amostra mas por amor de Deus, ...recolham mais devagar que aquilo que fariam em águas azuis, límpidas.
Ok?

Com águas calmas e límpidas, ...todos pescam. Até eu...

Podemos juntar a estes dados algo mais.
Em situações de níveis de luz médios ou altos, ou seja, quando temos luz solar intensa, às horas de sol alto, as possibilidades de detecção das nossas amostras é maior.
Mas todos sabemos que não é ao meio-dia que vamos aos robalos, é precisamente o oposto, procuramo-los pela manhã muito cedo, ou pela tarde, quase ao anoitecer.
Não é por acaso.
Fazemos isso porque sabemos que é precisamente nas horas de menor luminosidade, cedo ou tarde no dia, que os robalos se encontram mais activos. Fazem isso porque é a essas horas que a sua superior capacidade visual os favorece, em detrimento das suas presas. A coberto da falta de luz conseguem aproximar-se mais e desferir um ataque mortal.
Isso significa que em níveis de luz mais baixos aquilo que conta é muito mais o nível absoluto de luz, o qual protege a aproximação, que o contraste de cor que as suas presas fazem relativamente à água.
Falta ainda dizer que os dias mais nublados são normalmente mais produtivos que os dias de sol aberto.
Numa situação de caça ideal, um robalo fica na água turva, com vista para a água limpa. Ou num remanso de água, junto a água que corre rápido. Eles procuram sempre as suas vantagens.
Não é nada que nos espante. Permanecer numa zona confortável, invisível, à espera que passe um cardume de pequenos peixes. Que mais?!
Como é que os pescamos bem nestas situações? Está bom de ver que um vinil que emita vibrações, uma cauda shad com pala, algo que deixe uma “impressão digital sónica” que emita ruído, mesmo que em infra-sons, está a matar para esta pesca.
Em águas mais tapadas, uma cor que faça mais contraste, uma pala maior ou mais pequena consoante a força e vertigem da corrente que passa, e uma técnica de recolha de linha lenta. Faz sentido?!
Basta aplicar aquilo que lemos anteriormente...
Em suma, a água estar mais ou menos turva tem uma enorme influência no comportamento dos peixes, sobretudo dos que são predadores. O comportamento deles muda à medida que a água turva mais e mais.

Locais há onde a turbidez é máxima, a água é uma miserável “sopa”, e parece ser impossível pescar.
Na Indonésia, um rio de nome Citarum, consegue ter peixes vivos que autenticamente se alimentam de detritos. Vejam uma foto:

Não tentem fazer spinning aqui...

Em certos rios na Índia, como o Yamuna, a quantidade de químicos diluídos na água quase impede a manutenção de vida animal.


Como limite, e a talhe de foice, digo-vos que na Rússia existe um lago morto, em que não há qualquer tipo de forma de vida conhecida: o Lago Karachay.
Neste lago, o governo russo mandou depositar uma enorme quantidade de resíduos radioactivos.
É de tal ordem perigoso que qualquer ser humano que nade uma hora no lago morre inapelavelmente.
O local é de visita proibida, e isso faz com que existam poucas fotos disponíveis...



Meu Deus, que bem que estamos!....

Espero que tenham gostado desta série de artigos.
Boas pescas!


Vítor Ganchinho


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