AMAZÓNIA - E SOBRE PEIXES? - CAP VII

O ritmo da vida de quem pesca na Amazónia é o ritmo dos peixes.
Acordar às cinco da manhã para estar a lançar ao raiar do dia. E fazer isso até à noite.
A pele das mãos salta, os ombros queixam-se dos maus tratos, as costas suplicam uma pausa e reclamam clemência. Mas não a têm…
Se é a música que nos faz dançar e é o peixe que nos torna pescadores.
Quando não o temos…tudo se complica, o desânimo instala-se. Há que ser muito resiliente para aguentar lançar milhares de vezes sem um único toque...
Nestes oito dias de pesca, acredito que o único sítio onde não fomos procurar peixe foi debaixo do sovaco de Jesus Cristo.


As mais famosas amostras são artefactos equipados com um hélice traseiro, e há alguém que dedicou a sua vida a produzir as melhores de todas: Nelson Nakamura.
De ascendência japonesa, beneficia da aptidão do seu povo para produzir equipamento de pesca e apresenta um engenho que, mediante a recolha da amostra, faz explodir a superfície da água em espuma, barulho e salpicos.
O suficiente para desafiar um peixe que faz da velocidade e força o seu principal argumento.

A primeira uma hélice, a segunda uma oferta de um amigo, o Adriano, que a fez à mão, em jacarandá da Baía, uma madeira rara.

Pesquei com amostras muito mais pequenas e leves que o corrente. E na verdade fiz sempre tantos ou mais peixes que aqueles que utilizaram amostras pesadas, torpedos com 40 ou mesmo 50 gramas! Pelos vistos fui dos primeiros a lançar amostras miniatura para aqueles monstros...um pouco como lançar amostras dietéticas, sem glúten, sem açúcar e sem lactose...
Para mim, os 18 gramas foram o limite e com isso pesquei de forma mais confortável.

Uma “bicuda” de água doce.

É meu entendimento que quando o peixe está muito massacrado por artificiais, baixar o tamanho e o peso daquilo que se lança, retirar o ruído do rattling, as palas vibratórias, etc, só pode resultar melhor.
Passei a ter toques onde outros nada fizeram.

Vejam os filmes:

Clique nas imagens para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.


Aquilo que pode interferir com a disponibilidade de stocks dos tucunarés passa muito além da pesca à linha ou de eventual sobrepesca que possam sofrer.
Nunca saberemos se não estão lá, se não os há mesmo, ou se estão mas não picam por estarem massacrados por tanta amostra que cai à sua volta. Mas o que os mata não são os artificiais que lhes lançamos. 
Causas naturais como a evolução dos níveis de água, essas sim, matam de forma impiedosa estes nobres peixes.
As ninhadas que sobrevivem reportam-se a casais de progenitores velhos, maduros, com experiência de vida suficiente para perceberem o momento certo de abandonar a segurança dos mangais. Saber sair a tempo.
Não será uma decisão fácil…
Se por um lado sair é expor a “família” a perigos vários, a milhões de piranhas e muitos outros peixes que comem os alevins, a pescadores, que pescam os pais e deixam ao abandono as crias, também ficar no ninho é poder perder o tempo de conseguir uma saída com água suficiente.
Em poucos dias o nível das águas pode baixar um ou dois metros. Posturas mais tardias ou feitas em pontos mais altos irão irremediavelmente morrer, secas ao sol. Para os que ficam dentro das lagoas, a baixa oxigenação das águas também os mata. A médio prazo o calor, a eutrofização da água e a falta de alimento serão suficientes para isso.
E dessa forma perdem-se muitos peixes...


Os golfinhos de água doce, os botos, têm um comportamento estranho se vistos à luz daquilo que são os nossos golfinhos de mar.
São ariscos, escondem-se, fazem apneias de largos minutos para que não saibamos onde estão. É possível vê-los mas impossível prever onde vão sair a seguir.
Segundo os locais exalam um cheiro intenso a peixe, bastante desagradável. Cheiram …mal.
Por isso não são comidos pelos locais. Escapa-me por isso a razão de terem um comportamento tão arisco, tão reservado.

Vamos continuar a pescar nos próximos números do blog.


Vítor Ganchinho


😀 A sua opinião conta! Clique abaixo se gostou (ou não) deste artigo e deixe o seu comentário.

Artigo Anterior Próximo Artigo

PUB

PUB

نموذج الاتصال