Alberto Santos Dumont disse um dia: “as coisas são mais bonitas se vistas de cima”.
Temos a obrigação de nos conseguirmos elevar a um patamar mais alto e ver a pesca enquanto actividade lúdica, uma forma de estar em plena natureza com e por puro prazer, e nunca com a obsessão de pescar a quantidade máxima de peixe que nos for possível.
E não necessitamos de matar o peixe quando pescamos.
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| Momentos de cortar a respiração... |
Isso traz-nos outros desafios, outras dificuldades.
Na verdade, o negócio da pesca sem morte é apenas aparentemente bom, se analisado apenas de um ponto de vista meramente técnico, a pesca pela pesca.
A preservação dos recursos é garantida ad-eternum pela captura e imediata libertação dos peixes. Em teoria o número de tucunarés só tende a aumentar.
Porém, acontece que os peixes não são assim tão “esquecidos” e após duas ou três más experiências com amostras deixam de se interessar em correr para aquele artificial que lhes cai perto.
Isso obriga-nos a crescer enquanto pescadores, a suar para ter um deles. Eu sou muito isso, ir pelo que é difícil, pela unidade impossível, e muito pouco pela quantidade fácil.
Aquilo que podem esperar de mim é que continue a procurar coisas estranhas, os casos bizarros da pesca, sempre com a irreverência de quem valoriza muito mais uma boa história, um enredo de capa e espada com beijos e muitos tiros que a análise fria e não sentida de números parvos de totais de peixes capturados.
Que se lixem os baldes de peixes! Eu serei sempre um romântico mais capaz de escrever duzentas linhas sobre a captura de um só sargo grande, do que enaltecer uma pesca de cento e cinquenta douradas de palmo…
São feitios...
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| Este peixe vai passar uns tempos sem olhar para uma amostra. |
Se a Amazónia é imensa, também imensa é a pressão de pesca.
Os locais visitados são sempre os mesmos e correspondem a zonas meio seguras, sem perigos imediatos.
Ir mais para além daquilo que é visitado todos os dias é arriscar a pele.
Não pelas onças, não pelas cobras anacondas, muito menos pelas piranhas, essas sim aos milhões (eu pesquei-as em todos os locais que visitei, sem excepção), mas sim pelo perigo latente dos guerrilheiros que patrulham a floresta à procura de incautos.
A zona de excelência dos tacunarés, os afluentes do grande Amazonas, é também a dos que tratam de escapar ao controlo das autoridades.
Toda a sorte de bandidos e bandoleiros procurados pela justiça vai para uma zona remota, um triângulo que compreende o sul da Venezuela, da Colômbia e o norte do Brasil.
As forças armadas de cada país não podem actuar em território alheio e por isso em caso de entrada do exército de qualquer dos países, basta-lhes mover um pouco o acampamento e tudo rola bem.
Acresce o facto de esta região ser uma autoestrada segura para tudo o que é narcotráfico, há muito dinheiro em jogo e por isso a morte é fácil, faz parte do jogo.
Pois é aqui, neste ambiente de isolamento, crime e impunidade que os tucunarés vivem bem e engordam.
É aqui que os maiores troféus saltam fora de água mostrando cores absolutamente incríveis. O ciclo de vida de um peixe que faz uma corrida permanente pela subida e descida das águas é uma incrível odisseia. Talvez por isso seja tão difícil pescá-los, por haver muita gente que os quer.
São bonitos, são fortes e são poderosos. São isso tudo.
Efectivamente é um dos peixes mais fortes e bonitos do mundo...
Vítor Ganchinho
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