AMAZÓNIA - QUE SUSTENTABILIDADE PARA UM TIPO DE PESCA COM LIBERTAÇÃO DO PEIXE? - CAP VIII

Alberto Santos Dumont disse um dia: “as coisas são mais bonitas se vistas de cima”.
Temos a obrigação de nos conseguirmos elevar a um patamar mais alto e ver a pesca enquanto actividade lúdica, uma forma de estar em plena natureza com e por puro prazer, e nunca com a obsessão de pescar a quantidade máxima de peixe que nos for possível.
E não, não necessitamos de matar o peixe quando o pescamos.

Momentos de cortar a respiração...

Isso traz-nos outros desafios, outras dificuldades.
Na verdade, o negócio da pesca sem morte é apenas aparentemente bom, se analisado apenas de um ponto de vista meramente técnico, a pesca pela pesca.
A preservação dos recursos é garantida ad-eternum pela captura e imediata libertação dos peixes. Em teoria o número de tucunarés só tende a aumentar.
Porém, acontece que os peixes não são assim tão “esquecidos” e após duas ou três más experiências com amostras deixam de se interessar em correr para aquele artificial que lhes cai perto.
Isso obriga-nos a crescer enquanto pescadores, a suar para ter um deles. Eu sou muito isso, ir pelo que é difícil, pela unidade de um peixe impossível, e muito pouco pela quantidade de muitos peixes fáceis.
Aquilo que podem esperar de mim é que continue a procurar coisas estranhas, os casos bizarros da pesca, sempre com a irreverência de quem valoriza muito mais uma boa história, um enredo de capa e espada com beijos e muitos tiros, que a análise fria e não sentida dos números parvos de cabazadas de peixes capturados.
Que se lixem os baldes de peixes! Eu serei sempre um romântico muito mais capaz de escrever duzentas linhas sobre a captura de um só sargo grande, do que enaltecer uma pesca de cento e cinquenta douradas com menos de um palmo…
São feitios...

Este peixe vai passar uns tempos sem olhar para uma amostra.

Se a Amazónia é imensa, também imensa é a pressão de pesca.
Os locais visitados são sempre os mesmos e correspondem a zonas seguras, sem perigos imediatos. Onde os barcos de pesca nos levam sim, é tudo seguro, mas aí temos sobretudo peixes massacrados por amostras. Peixes picados. 
Porém, ir mais além daquilo que é visitado todos os dias é arriscar a pele.
Não pelas onças, não pelas cobras anacondas, os jacarés, muito menos pelas piranhas, essas sim aos milhões (eu pesquei-as em todos os locais que visitei, sem excepção), mas sim pelo perigo latente dos guerrilheiros que patrulham a floresta à procura de incautos. Não se diz, não se comenta em lado nenhum, mas...sente-se. 
Há ali algo mais. 
A zona de excelência dos tucunarés, os rios afluentes do grande Amazonas, é também a dos que tratam de escapar ao controlo das autoridades.
Toda a sorte de bandidos e bandoleiros procurados pela justiça vai para uma zona remota, um triângulo que compreende o sul da Venezuela, da Colômbia e o norte do Brasil.
As forças armadas de cada país não podem actuar em território alheio e por isso em caso de entrada do exército de qualquer dos países, basta-lhes mover um pouco o acampamento e tudo rola bem.
Se juntarmos toda a informação disponível (um canal de televisão nacional passou um programa muito esclarecedor sobre o tema há meses...onde referia que mais de 300 guerrilheiros terão sido assassinados desde o dia em que muitos se mostraram, depositaram as armas e assinaram um acordo de paz...) chegamos à conclusão que há algo mais. 
Acresce o facto de esta região ser uma autoestrada segura para tudo o que é narcotráfico, há muito dinheiro em jogo e por isso a morte é fácil, faz parte do jogo.
Actualmente, dissidentes das FARC continuam envolvidos em actividades ilegais na Amazónia, desde a extorsão de garimpeiros ao tráfico de estupefacientes. É factual.  

Estas coisas não constam, oficialmente não se sabem, mas à boca pequena pairam no ar. 
Um cliente GO Fishing falou-me delas, ele que esteve preso pelas autoridades da Colômbia e foi libertado após duras negociações e algum dinheiro por fora. 
Não voltará ao local, segundo as suas palavras....


Pois é aqui, neste ambiente de isolamento, crime e impunidade que os tucunarés vivem bem e engordam. Quanto mais perigosa a zona, maiores são os peixes e mais voluntariosos a morder. 
Dizia-me esse cliente GO Fishing que terá pescado dezenas de peixes entre os 80 e os 90 cm, nas zonas de limite fronteiriço, e já um pouco dentro da Colômbia. 
É aqui que os maiores troféus saltam fora de água mostrando cores absolutamente incríveis. 

O ciclo de vida de um peixe que faz uma corrida permanente pela subida e descida das águas é uma incrível odisseia. Talvez por isso seja tão difícil pescá-los, por haver muita gente que os quer.

São bonitos, são fortes e são poderosos. São isso tudo.
Efectivamente é um dos peixes mais fortes e bonitos do mundo...


Vítor Ganchinho


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2 Comentários

  1. Boas Vitor
    Tenho estado a ler todos estes artigos com a maior atenção e a rever-me em cada um deles uma vez que tive a felicidade de poder percorrer os mesmos caminhos e vivenciar as mesmas experiências e poço afirmar que efetivamente é uma experiência única que vale a pena
    A amazónica é efetivamente algo fora do comum pelos peixes extraordinários pela fauna flora a capacidade sensorial do povo
    Foi uma experiência extraordinária
    Um abraço
    Luís maia

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    Respostas
    1. Olá Luis!!! Bem sei que és mais um sobrevivente das moscas mutucas e da quantidade de bicheza que nos quer morder naquelas terras.
      É uma viagem a fazer, embora não seja necessariamente algo a repetir vezes sem fim.

      De resto, nós temos por cá muito peixe bom para pescar, e podemos fazê-lo com um conforto bem superior.
      São muitas viagens de avião, dias de aeroporto, esperas infinitas.

      Adorei a comida de Manaus, e vou dedicar a isso um artigo em separado.
      Colecionei algumas curiosidades sobre aquilo que eles comem e acho que pode ser interessante para pessoas que se interessam por elementos "colaterais" daquilo que é uma expedição de pesca.
      Porque não se esgota tudo no acto de lançar e ferrar um peixe...

      Hoje no blog vai sair algo relacionado com a questão dos recordes de medidas de peixes. Acho eu.
      Na verdade, é o Hugo Pimenta quem decide o que publica, eu só dou aos dedos tanto quanto posso para lhe passar conteúdos.

      Em termos de imagens, convenhamos que há muito por onde escolher, aquilo tem muita coisa bonita para ver.
      Vamos seguindo a sequência de artigos e no fim estou certo de que haverá alguém que queira comentar.

      Abraço
      Vitor

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