AMAZÓNIA - PESCAR EM ÁGUAS NEGRAS - CAP XIII

Para quem pesca em mar, as águas amazónicas do Rio Negro não deixam de ser estranhas.
São “castanhas”, e muito diferentes de tudo aquilo que temos por cá.
A quantidade de vegetação morta que cai no leito do rio, os troncos que apodrecem, o regular ir e vir das chuvadas, tudo isso leva a que esta região esteja banhada
por uma imensidão de água com valores de PH situados entre 4.5 a 5,8, e com muito baixas concentrações de oxigénio dissolvido.
Tudo ali é imenso! Com área de 754.925 Km2 , a bacia hidrográfica do rio Negro abrange três países (Brasil, Colômbia e Venezuela) e no seu ponto mais largo tem 24km de largura!
Possui cerca de 1.700 km de extensão, dos quais aproximadamente 1.200 km correm em território brasileiro, a região onde eu pesquei.
Custa-nos a acreditar que possa existir tão pouca gente num território tão grande: apesar ser o estado brasileiro com maior número de etnias indígenas (23), a densidade populacional é muito baixa, 0,38 hab/km2, ou seja, uma só pessoa para quase 3 km2...

Reparem na cor destas águas...são ácidas.

Não podemos, nós europeus, beber água do rio.
Passo-vos a apreciação técnica das águas: “a qualidade da água do Rio Negro é geralmente considerada entre boa a aceitável para consumo, embora a sua classificação seja dificultada por características específicas que a impedem de se enquadrar nas categorias de água doce padrão da Resolução 357/2005.
A sua água apresenta alta acidez e baixo nível de nutrientes, características que, apesar de manterem a qualidade para abastecimento, não se ajustam aos padrões de referência”. Por outras palavras: “não bebam”...
Efectivamente estamos perante águas com pouco impacto de utilização humana, não poluídas, mas com um elevado nível natural de acidez.
Tomamos banho, os barcos têm sistemas de bombas que nos colocam água nos chuveiros, mas não mais que isso. Barbear, lavar a cara pode ser feito, mas escovar os dentes é sempre feito com água mineral.

Reparem que o Rio Negro encosta à Colômbia, a sul desta.

Os peixes, esses sim, estão perfeitamente adaptados e crescem saudáveis no meio daquelas condições.
Existem 15 espécies diferentes de tucunarés, sendo que dessas eu pesquei 3.
Uma dessas espécies é tão restrita que apenas existe numa zona de correntes de um só rio. É bem estranho que uma espécie de peixe exista apenas num local, em poucas centenas de metros de área.
Obviamente é superprotegida.

À direita um dos Cichla Temensis que fiz. Lindos!...

Conseguir um bom exemplar é trabalho duro já que os que são grandes já foram pescados, ou escaparam ilesos mas foram tentados, pelas centenas de pescadores que acorrem a esta região todas as semanas. Existem voos regulares e os aviões chegam cheios de tubos de transporte de canas. A ideia é de que ninguém vem aqui sem ser para ...pescar.
Todos sabem que é duro conseguir um peixe se as águas estiverem altas, os peixes escondem-se nos troncos, mas ninguém desiste de tentar.

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Quando conseguimos um, isso enche-nos de felicidade, não só pela beleza de cada peixe em si, mas porque isso é o corolário de muitas horas de esforço físico.
Debaixo de sol escaldante, com muitos insectos à volta, com muitos milhares de lançamentos feitos durante dias e dias, ter um peixe na linha é ...tudo.
As noites caem rápido, o corpo pede descanso porque no dia a seguir haverá mais água, mais troncos, e... poucos peixes.

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A formação de chuva acontece muito rapidamente, e num instante cai uma hecatombe de água em cima de nós.

Quando estamos longe do barco, de nada adianta tentar escapar a uma chuvada forte. Nunca chegaremos a tempo de não levar com a água e por isso há que aceitar
as condições de tempo que temos. A solução passa por levar dentro de uma sacola um impermeável ligeiro, algo que nos proteja de ficar encharcados, mas ao mesmo tempo não seja demasiado quente.
Convém não esquecer que estamos na Amazónia e por isso as temperaturas acima dos 30ºC com muita humidade são o habitual.

Quando as águas baixam, as borboletas aparecem sobre os areais, sítios onde estarão seguras e podem descansar as asas.

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Sofrer sofremos sempre, não há forma de evitar calor, insectos, perigos, mas a recompensa são fotos de peixes magníficos.
Não será uma pesca para fazer todos os anos, mas é uma pesca que se pode e deve fazer uma vez na vida.


Vítor Ganchinho


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