Porque são protegidos por lei, existem peixes na Amazónia cuja pesca implica uma consequente e rápida libertação.
Acresce ainda o facto de não poderem ser pesados já que qualquer tipo de controle de peso obrigaria a procedimentos morosos, algo que inevitavelmente iria retardar a sua restituição ao meio líquido.
Por isso, estes peixes são apenas medidos tentando a todo o custo não prejudicar a saúde do exemplar.
De resto, todos os pescadores ficam elucidados quando se sabe do seu comprimento total: o peixe passa a ser conhecido por um tucunaré 62, um 75, etc.
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| Este meu peixe é um tucunaré 61. Isso significa que tem 61 cm medidos da boca à cauda. |
Estabelecer um record mundial de comprimento de um peixe obriga ainda assim a certezas que não serão nunca compatíveis com qualquer tipo de dúvidas.
São pedidos vídeos e imagens, e é feita uma peritagem ao que é enviado.
Não pode haver a mais pequena dúvida porque essa informação passa a ser vinculativa a todos os milhares de pescadores que dedicam o seu esforço a esta espécie de água doce.
Por isso mesmo a organização que acompanha este tipo de pesca, uma das muitas que existem em todo o mundo, uma congénere da IGFA que todos conhecemos, é muito cautelosa a aceitar aquilo que recebe para homologação. E tem razões para isso.
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| Podem ver algo sobre isto em: https://www.lojabgfarecordes.com.br/ |
Para mim, em termos pessoais, está fora de questão querer de alguma forma “aldrabar” o sistema, até porque me sentiria envergonhado por deter um recorde mundial falso. Fora de questão.
Mas há quem não se incomode muito com isso....ansiando apenas ver o seu nome numa lista muito restrita de gente que conseguiu, com o seu esforço, ir mais longe que todos os outros.
Sim, há quem tente falsear o sistema!
Tenho a certeza de que teríamos por cá gente que seria capaz de o fazer, há rapazes com menos escrúpulos que não hesitariam em tentar.
Conto-vos três dos truques já utilizados:
1- Não encostar devidamente a boca do peixe à paleta vertical da régua. Já que todas as atenções se viram para o número final da régua, .....
2- Esmagar literalmente o peixe com a mão, dar-lhe um “amasso” como dizem os brasileiros, de forma a dar-lhe mais ...1 cm.
Isso mata o peixe, mas haverá quem não se importe de sacrificar um peixe por essa “nobre” causa.
3- Dobrar a régua a meio, de forma a que esta passe, por exemplo, dos 45cm, para os 55 cm....
Implica ser engenhoso, mas perfeitamente possível de fazer já que o peixe tapa a régua a meio.
Tudo isto são formas, e outras haverá, de conseguir esticar o pobre do peixe, de o obrigar a ser aquilo que não é.
O recorde do mundo de tucunaré está nos 94 cm, já foi igualado mas não batido. Acredita-se piamente que existam peixes acima desta medida, sobretudo em rios não pescados, mais a norte, junto à Colômbia.
A questão é que aí, o risco de vida está associado à tentativa de bater o recorde mundial...os guerrilheiros não querem saber de pesca, querem aquilo que a pessoa tiver, nem que seja roupa.
Vá para lá quem quiser...
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| Este peixe pescado no Rio Negro deixou-me a 21 cm do record mundial, tinha apenas 73 cm, a 2mm dos 74cm... |
As multiplas organizações braisleiras que vivem à sombra da pesca deste peixe, e são mesmo muitas, procuram formas engenhosas de conseguir chegar perto dos números recorde. Com isso ganham fama, e proveito.
Sei que estão a “comprar” troços do rio, que serão de uso exclusivo dessas entidades, no sentido de garantir uma pressão de pesca baixa.
Se alguém disser que há uma lagoa onde foi capturado um exemplar recorde do mundo, e sabendo de antemão que todos os peixes são libertados, haverá que queira ir lá a seguir, para o voltar a capturar quando esse peixe tiver mais um centímetro.
As viagens de pesca a estes exemplares são marcadas com a antecedência de um ano, e podem nem se conseguir vagas na altura ideal.
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| Este era um 64, um tucunaré borboleta de 64 cm. |
O período de pesca mais consensual será o Setembro /Outubro/ Novembro, meses em que chove menos e por isso haverá menos água nas bacias hidrográficas.
Isso ajuda da seguinte forma: os peixes sentem o caudal de água a desaparecer e saem dos seus esconderijos, para entrarem no rio principal.
Quando as águas baixam, passam a existir praias de areia, e os peixes já não podem contar com os milhares de postos de caça que se encontram por trás, na mata.
De qualquer forma, e porque há em permanência árvores a cair na água, ramos submersos, que não se pense que será fácil. É apenas menos difícil arrancar os peixes ao seu meio.
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| Neste caso, as águas baixaram e já há uma margem. Vantagem nossa! Quando voltar a chover, as águas sobem, entram na floresta, e os peixes vão lá para dentro. Adeus... |
Podem pensar que não faz muita diferença, mas faz.
Quem vai lá numa época de águas altas sofre e transpira muito para conseguir 4 a 5 peixes num dia.
Quem tiver a sorte de chegar lá com caudais baixos, pode fazer 40 a 50 peixes por dia.
Faz mesmo muita diferença.
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| A diferença é esta: ser ou não ser capaz de lançar uma amostra. |
Não preciso de vos dizer que os locais mais inóspitos serão aqueles que mais possibilidades de pesca oferecem. Lá como cá, onde menos gente pesca é onde existe mais peixe. Para isso, fazem-se viagens longas a partir do barco / hotel, por vezes de algumas milhas.
Vejam o filme:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
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| Os maiores exemplares escondem-se por detrás destas estruturas e é muito difícil lá chegar. E quando se consegue, podem...partir as linhas. |
Ter informação actualizada ajuda a escolher os dias e existe para estes casos um canal que transmite os níveis de chuva e o estado das águas.
É muito útil saber se o nível é X ou Y, já que isso determina se iremos lançar dentro da mata ou... fora da mata.
Abaixo podem ver um local onde a água baixou e obrigou os peixes a recuar para o leito normal, aquilo que os brasileiros designam por “rio dentro da caixa”:
Esse é o momento em que os peixes recorde são obrigados a sair das matas e a ficar mais expostos.
Vejam o filme:
Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.
Estamos a chegar ao fim desta série, mas ainda há algo mais para ver.
Até ao próximo número.
Vítor Ganchinho
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