FUI PESCAR JIGGING LIGEIRO EM FRENTE A... IPANEMA

As relações entre as pessoas estão cada vez mais frias, mais desumanizadas, se quiserem...mais eletrónicas.
Custa-me ver duas pessoas afastadas por um metro de distância a comunicar entre si através de um telefone portátil. Não conversamos.
Sou e serei sempre um adepto fervoroso do contacto, de um forte aperto de mão, um abraço.
Demonstrar amizade é algo que nos dias que correm é feito com emojis por WhatsApp, para mim uma forma higiénica, diria asséptica, esterilizada, de comunicar sentimentos.
Estamos a perder tudo com esta forma estéril de nos relacionarmos sem emoção.
O que existe no meio de um abraço? E o que existe para além dele?
Estaremos nós humanos a saber lidar com tanta informação disponível?
Com um telemóvel na mão somos tudo mas ...e onde ficam os sentimentos? O nosso telemóvel trata deles?


Fui visitar um amigo, fui dar-lhe um abraço.
O Dr. Gustavo Vaitsman convidou-me para ir pescar com jigs ligeiros e eu, que para pescar ligeiro faço tudo, fui ter com ele.
Mente aberta, preparado para quase tudo, mas não para uma pesca como aquela que iria fazer: a “malhar” nos ceguinhos, a perseguir um cardume de Caranx crysos, (Blue runner), que deve ter perdido mais de metade dos seus efectivos.
Nós também temos este peixe por cá, embora seja raro. Encontrei-o junto à costa na zona da Comporta, a sul de Setúbal.
Sendo um peixe que se encontra facilmente em África, (pesquei-os no Senegal com tamanhos bem maiores), por terras cariocas não passam a insípida medida de 500/ 600 gramas. O que decepciona.

Uma espécie de ...carapau um pouco mais encorpado. Mas com o mesmo comportamento, agressivo, destemido e um pouco...suicida.

A pesca é feita em torno das ilhas que se encontram em frente a algumas das mais famosas praias do mundo: Ipanema, Leblon, Copacabana, etc.
Não deixa de ser curioso que estejamos a pescar com vista privilegiada para as raparigas de bikinis mais arrojados do planeta.
As águas quentes, na casa dos 23/ 24º C puxam para a redução de vestimentas, mas não só: é preciso mostrar que se fez mais uma plástica, um implante, algo que ali é tão natural que assusta.
Cirurgião estético com nome feito, o Dr. Gustavo detecta cada “mexida” no peito, na bunda, com a precisão de quem faz isso...todos os dias.

O Cristo Rei ao fundo, com a praia de Copacabana à vista.

Porque somos bons rapazes, vamos voltar à pesca de peixes, e esses foram uma desilusão.
Num tom monocórdico, os pequenos carangídeos foram entrando para o barco um a um, pescados com camarões de vinil ou com jigs até aos 30 gramas.
A baixa profundidade não pedia mais. Para encontrarmos mais fundo, teríamos de nos afastar da costa algumas dezenas de milhas e o mar não estava de feição para isso.
O conjunto de ilhas que tínhamos como alvo não deu para muito mais que uns quantos bonitos, um ou outro escanzelado lírio e estes ditos blue runners, que fizeram as honras da casa mais que todos os outros.

Os “xereletes”, (blue runner) um carangídeo que levou uma sova tremenda e ...injusta.

Pescar estes desgraçados consiste basicamente em perseguir o cardume, procurar bem com a sonda, e quando em cima deles, malhar até não haver nenhum.
Confesso que estava à espera de mais, queria pescar peixes diferentes. Mesmo sabendo que o Atlântico é o mesmo, ainda assim há por ali muitas outras espécies e era isso que procurava. Não tive nada disso.
Encontrei sim um grupo de rapazes bem dispostos, alegres e animados como só os brasileiros conseguem ser.

Vejam o filme:

Clique na imagem para visualizar e na rodinha das definições para melhorar a qualidade.

Os pequenos xaréus bordejam estas rochas e são pescados abaixo da linha de espuma branca.

Algumas das ilhas albergam milhares de aves marinhas, e estranhei o facto de não serem reserva de aves.
As paredes verticais completamente lisas não convidam a escaladas mas ainda assim os seus ninhos não serão inacessíveis a humanos.

Vejam a foto abaixo:


Imaginem que levo alguém à pesca por cá e que só lhe apresento cavalas ou carapaus. Só isso.
Ao fim de uma hora de pesca eu já deitava xaréus pelo alto da pinha, e eles a dar-lhe com a força que tinham.
Via-os frenéticos, entusiasmados, pelos vistos aquilo era suficientemente interessante para quem não tem mais.
Percebi que ali aquilo era um dia de pesca bom, e segui o princípio “em Roma sê romano”, e não fiz ondas.
Por cá, teria mudado de sítio, teria ido procurar peixe grande a outro lado qualquer.

Saldou-se a pescaria por uma data de pelágicos, e zero peixes de fundo.

Para mim valeu pela experiência, que não pela pesca em si.

E pelo facto de andar a pescar em frente a praias famosas, onde tanto se pode apanhar sol e um bronzeado perfeito como se pode ficar sem nada de pertences. Os “arrastões” dos miúdos armados que descem das favelas acontecem de quando em quando...
Para nós, felizmente, isso não era um problema. Estar ao largo dá outras possibilidades de fuga.

A passar em frente a Copacabana, de retorno ao porto de abrigo.

Achei curioso que exista pessoal especializado em arranjar peixe!
O conceito não é novo, já me tinha sido sugerido por um casal de americanos com quem saí ao mar em Setúbal. Esses, depois de terem pescado uma resma de peixe, perguntaram-me: “tem o contacto de alguma empresa que escame peixe”?
Disse-lhes que não conhecia tal profissão em Portugal, excepto as senhoras da praça, que vendem e escamam o peixe.
Desta vez, fui dar com gente que faz isso para os pescadores a troco de algum dinheiro, ou...peixe.

Vejam abaixo:

Não deixa de ser conveniente ter quem trata do peixe em terra.

Outras terras, outros costumes.
O importante é ir, ver, perceber que há outras formas de viver a pesca.
Também é bom perceber que no nosso país não estamos tão mal de peixe quanto outros e que a nossa santa terrinha afinal é melhor que aquilo que apregoamos. Queixamo-nos sem razão...


Vítor Ganchinho


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