Longe vão os tempos em que a pesca de mar era uma actividade praticada apenas pelas populações ribeirinhas, gente que vivia perto do nosso litoral.
A proximidade do mar permitia usufruir com naturalidade dos seus recursos, aproveitando a baixa mar para conseguir polvos, lapas, mexilhões, ouriços, perceves, etc.
Tudo aquilo que o nosso mar português sempre deu de forma generosa a todos os que o procuram.
Pescar era, nessa altura, uma forma de conseguir pôr algo na mesa, e muitas vezes um mero complemento ao que a terra dava.
De lúdico teria pouco, era pescar para comer, e fazia sentido.
Por estranho que vos pareça, isso ainda existe, ainda há muita gente que pesca assim, de forma “artesanal”, com uma rudimentar cana de bambu, uma linha e um anzol.
Recordo-me de estar na Ilha Terceira e ouvir duas “comadres” a conversar o seguinte:
_ Já fiz a lida da casa, tenho a mesa posta, já tenho o arroz de tomate feito, falta-me só pegar na cana e ir ao pontão pescar os “chicharrinhos” (carapaus) para fritar.
Assim, sem mais nem menos, dar a pesca como garantida, como algo que é um mero pró-forma, ir pescar o peixe do jantar.
Aquela senhora sabia que ao entardecer os carapaus encostam a terra para comer aquilo que a luz dos candeeiros atrai à superfície. Em menos de meia hora iria conseguir o suficiente para a família.
Tenho a certeza de que iria pescar apenas a quantidade necessária para esse jantar, e não mais que isso.
Dou por mim a pensar quantas vezes eu faço algo parecido, quantas vezes saio cedo de casa com uma missão a cumprir, com um objectivo tão claro quanto o daquela simpática senhora açoriana.
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| Robalo bonito que fiz com uma colher da Little Jack. Vou falar-vos deste jig oportunamente já que traz coisas novas a quem faz jigging ligeiro. |
O meu sogro faz-me o favor de pedir “peixes à la carte” e eu pego nas canas e vou ao mar com esse objectivo em mente.
Hoje no blog pretendo dar-vos uma ideia do que é para mim um dia de pesca sem companheiros, em solitário, e por isso mesmo com a possibilidade de pescar os nossos peixes comuns, robalos, pargos, douradas, carapaus, mas complicando as coisas, experimentando técnicas ou equipamentos novos, fazendo ensaios de pesca que nem sempre serão os mais ...indicados.
No fundo da forma que mais me agrada, dificultando as coisas, inventando, por vezes chegando a limites de dificuldade absurdos. Desta vez andei a tentar peixes aos 70 metros com vinis pequenos e tungsténios de baixo peso, a deixar ir, a disfrutar de tudo aquilo que acontece a um artificial enquanto desce lentamente...
Não imaginam a quantidade de surpresas que acontecem. O peixe lança-se a tudo o que lhe pareça vagamente comida, (actua por estereótipos de comida...), belisca, e se formos rápidos a reagir, temos possibilidades de ferrar peixes de antologia. É difícil, indiscutivelmente, e muito menos produtivo que processos já consagrados, mas tem o interesse da inovação.
Para isso necessitamos de tempo, e sobretudo de muita paciência pois o processo criativo implica ganhar e perder. Se estamos sós, temos todo esse tempo.
Sim porque termos outras pessoas a bordo significa naturalmente fazer cedências, adequar a rota ao que as outras pessoas gostam de fazer, ao que conseguem fazer e ir ao ritmo delas.
Sozinho, se se perde a companhia, a amizade dos colegas, o convívio, ganha-se a concentração absoluta, a possibilidade de ser tão pescador quanto aquilo que se sabe ser pescador.
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| Para a pesca sai-se cedo, sem contemplações pelo corpo que pede mais umas horas de sono. A seguir o mar compensa-nos o esforço com....peixe. |
As grandes decisões essas são tomadas em casa, quando escolhemos o equipamento para esse dia.
É essa a primeira decisão. Outras se irão seguir e nenhuma delas irá deixar de influenciar o resultado final obtido.
Assim que lançamos os motores do barco e largamos terra, já estamos a ter de fazer opções. Vamos para que zona, vamos concretamente fazer o quê?
Custa-me pensar que se possa ir pescar sem que exista um plano prévio.
Mesmo para quem pesca sempre da mesma forma, e aí o “pica-pica” é rei e leva vantagem por ser a modalidade mais praticada, deve haver uma ideia do que se irá fazer.
E tanto podemos escolher!! Quando saímos ao mar de canas na mão é extensa a lista de diferentes possibilidades de pesca que se nos oferecem.
Temos um mar incrível à nossa frente!
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| Os meus amigos golfinhos. Tenho a certeza de que reconhecem o meu barco e sabem que não oferece perigo. |
Se a ideia é pescar com artificiais, podemos começar o dia por lançar umas linhas aos robalos, aproveitando a escassez de luz e a sua natural predisposição para atacar as nossas amostras. Não é algo que dure indefinidamente, temos menos de uma hora boa, desde o raiar do dia até que o sol se deixa ver.
Desta vez fui a um baixio conhecido, com um fundo misto de areia e pedra, tentar os robalos.
Não estava vento. A superfície lisa e espelhada do mar pedia algo de discreto, subtil, a passar por um pequeno peixe perdido e debilitado. E isso apenas se consegue com amostras muito ligeiras.
A opção foi um pequeno passeante da Megabass, uma peça com cerca de 7 cm e apenas 6.5 gramas de peso.
Em zonas massacradas por amostras grandes e pesadas esta é a forma certa de abordar os pesqueiros: ser diferente, discreto, ...e eficaz.
Infelizmente se a quantidade era muita, a qualidade do peixe que havia era baixa. Entraram mais de uma dezena de peixes, entre robalos e bailas, mas todos de pequeno tamanho, os maiores sem avizinhar sequer 1 kg de peso.
Fiquei apenas com um robalo curto, pouco mais de 500 gramas, por ter vindo preso no triplo por um olho, e por não gostar de deixar peixes diminuídos na água.
Todos os outros peixes foram desferrados com cuidado e libertados, porque amanhã também queremos pescar.
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| Megabass DOG-X Jr. SW - 2 DD Bora Ref: 4513473532108 Modelo: DOG-X Jr. SW 805052 CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS |
Estas amostras lançam-se bem com canas ligeiras, linhas muito finas, PE 0.8 a PE 1, e com um leader que não exceda o 0.26mm. Chega e sobra....o robalo é um peixe fraco, um oponente que faz duas ou três corridas, cabeceia duas vezes e está rendido. E se pescamos num plano horizontal, sem encalhes, a linha não tem de ser mais que o estritamente necessário para suportar as primeiras investidas do peixe.
O drag do carreto e as nossas mãos fazem o resto, o peixe encosta ao barco sem problemas de maior.
Quando existe uma concentração de predadores de pequeno tamanho encostados a terra, isso pode querer dizer que um pouco mais fundo, ou mais ao largo, não muito longe, podem andar os grandes.
Tomei nota e fiquei de voltar ao local mais tarde nesse dia, depois de cumprir a minha missão principal: encontrar carapaus de bom tamanho para o sogro.
Sei onde eles estão, e o que é necessário fazer para os convencer a entrar para o balde.
O carapau é um peixe muito voluntarioso, fácil, que convence muito pouco na linha, mas muito na grelha. Adoro carapaus grelhados!
Encontrei-os num dos sítios do costume, e a partir daí é uma recolha simples, uma pesca que está feita ainda antes de começar.
Porque o calibre dos carapaus naquele spot é normalmente bom, a opção foi utilizar uma cana de jigging ligeira, uma Nissin japonesa com uma acção máxima de 60 gramas.
Curiosamente é uma cana em que confio muito para trabalhar peixes grandes, com peso, já que o seu comportamento é o de um elástico, algo que não oferece um ponto firme de apoio, não dá a possibilidade de partir a linha porque acompanha indefinidamente os esticões do peixe. Os robalos têm a boca macia, grande, pelo que a sua ferragem é extremamente fácil.
O jig utilizado foi um Zeake formato agulha, (porque estava alguma corrente), um espelhado de 30 gramas equipado com triplo, para evitar rasgões já que a boca do carapau, como sabem, é de uma fragilidade gritante.
O jig foi este:
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| Zeake Metal Jig G Slasher 30g - 001 Ref: 4580039817238 CLIQUE AQUI PARA SABER MAIS |
O resultado dessa segunda incursão foi um balde de carapaus. Deu ainda uma pequena bica que ofereci a um barco que parou junto a mim para perguntar se eu sabia a que horas o vento iria soprar. É muito comum que o façam, ...e marquem o ponto onde estou.
Percebi que era gente pouco habituada ao mar e que estava...à “deriva”, quase de certeza sem peixe. Perguntei-lhes como estava a correr o dia e confirmaram-me que as coisas para eles estavam negras.
Ao olhar para o set de canas que tinham fiquei sem dúvidas: era material forte, para corrico pesado, para fazer trolling, e estavam a querer pescar spinning....com amostras Rapala para atuns. Não acredito que fossem capazes de lançar uma amostra a mais de 6 metros...
Ainda não tinham qualquer peixe pelo que ofereci uns quantos peixes, inclusive a bica que tinha feito há minutos, para o almoço deles.
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| É muito rápido fazer uma quantidade de carapaus suficiente. O jig recolhe um, ou dois, a cada lançamento. |
Vou contar-vos do resto da pescaria no próximo número do blog, este já vai extenso e há pormenores sobre a pesca dos robalos maiores que fiz a seguir e não quero perder a oportunidade de vos passar informação.
E há um filme.
Até lá!
Vítor Ganchinho
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