Pescamos com vinis - Sim, mas como escolher?


Os vinis são , sem sombra de dúvida, uma das amostras mais mortíferas que podemos utilizar, quer pela variedade de soluções que nos dão, quer pela sua eficácia. A perfeição de fabrico hoje possível, torna-os autênticos peixes vivos. Os peixes acreditam neles! 
A oferta do mercado relativamente a vinis é particularmente extensa. Tamanhos, cores, formas, densidades, textura, no fundo uma panóplia de possibilidades que nem sempre torna fácil a opção por este ou aquele modelo. Então como decidir?
É isso que vamos ver hoje, procurando analisar em detalhe as razões que podem fundamentar a nossa escolha. 



Antes de mais, vamos caracterizar aquilo que existe, e partir depois para a sua correcta utilização em acção de pesca. Em traços gerais, temos vinis mais indicados para pescar à superfície em mar agitado, vinis para pescar profundo em zonas de correntes, vinis para mar muito calmo e micro vinis. São estas as quatro situações mais correntes, sendo que as fronteiras entre cada uma das situações é muitas vezes bastante ténue, pelo que é conveniente ter uma ideia precisa da cada uma destas variantes, preto no branco, e partir daí para as zonas cinzentas, que existem, sem dúvida. Esta ultima nuance, a dos micro vinis, será objecto de um trabalho em separado, pela sua especificidade, já que são um exclusivo da pesca Light Rock Fishing, LRF, pois não se enquadram de todo nas três categorias anteriores.  



Há que evitar a todo o custo comprar material por palpite, comprar por comprar. Vamos tentar obter elementos que nos permitam “adivinhar” aquilo que podemos esperar do nosso vinil, antes da compra. O grau de rigidez da amostra já determina muito daquilo que podemos obter dela. Quanto mais mole, mais absorve as vibrações, mais discreta, logo jogamos apenas com o seu efeito visual e não com o estimulo da linha lateral dos peixes. Cada fabricante, ao produzir uma amostra, procura que ela tenha um determinado tamanho, uma determinada rigidez, uma determinada vibração. Faz isso a pensar neste ou naquele tipo de peixe, tem em mente uma determinada e concreta situação de pesca. A expectativa que tem é de que o seu produto irá ser utilizado nestas ou naquelas circunstâncias. Quando alteramos esse princípio, estamos quase sempre a desvirtuar o resultado final. Vejamos como utilizar numa situação prática: 



Podemos começar pelos “ slugs”, os peixinhos finos e compridos, que se aproximam da forma de pequenas enguias, ou galeotas. São um manjar para os nossos robalos nas versões 10, 16 e 20 cm. Procuram-nas avidamente e por isso são uma forma de vinil a explorar. Esta amostra é comprida e muito lisa, logo não tem pontos de contacto que façam demasiado atrito com a água, pelo que a sua natação não emite demasiadas vibrações. Nem precisa. Há momentos em que é exactamente isto que queremos, algo que ondule, ao sabor dos impulsos que lhe damos com a cana.  Em águas baixas, claras, paradas, ou em zonas muito frequentadas, onde se pesca com muita regularidade, os peixes cansam-se rapidamente de vibrações, deixam de correr e passam a procurar algo mais silencioso, mais natural. Aqui, um vinil mais macio, mais comprido, mais ondulante, logo com uma hidrodinâmica diferente, tem nítidas vantagens. Um vinil mais rígido, de cauda curta e muito larga, irá provocar excesso de turbulência que não é natural, que não irá imitar fielmente nenhuma presa, logo irá ser rejeitado. Digamos que os peixes precisam de algo mais do que um ruidoso objecto que lhes passa perto, mas que não convence por excesso. Também a calma das águas nos força a lançar mais longe, onde o peixe está mais receptivo, longe dos ruídos por nós provocados, quer a passear na margem, quer da enorme caixa de ressonância que é um barco. Em determinadas condições, quer pelo impacto da ondulação, quer pelo ruído que fazemos no seu interior, um barco pode ser um autêntico tambor! Fixar o seguinte: em zonas muito pescadas, temos de ser discretos. E optamos aí por um slug. A Savage tem vinis deste tipo que são máquinas de matar robalos. Permitem lançamentos longos, por oferecerem menos resistência ao ar, e pela utilização do cabeçote de chumbo, onde vai acoplado o anzol. 



Quando lançamos em distância, temos a possibilidade de executar um tipo de movimento a que chamamos de “darting” e que mais não é do que a mudança brusca de direcção do vinil, em zig-zag, provocada por pequenos movimentos da ponteira da nossa cana. Apenas é possível a cabeçotes de chumbo com a cabeça facetada. Esta é uma técnica absolutamente fatal para os nossos predadores e que eu vi fazer pela primeira vez em Valência, pelo grande António Pradillo, um dos gurus europeus da pesca com vinis. Vamos aprender a executar o darting nos cursos de LRF que vamos organizar na GO Fishing Portugal, assim que passe um pouco mais esta situação de pandemia. 



Também podemos optar por uma amostra que tenha uma cauda redonda, uma pala que se opõe ao deslocamento, que trava, e que por isso provoca turbulência. Essa pala pode ser mais ou menos perpendicular ao sentido em que recolhemos a nossa amostra. Chama-se a isto um “Shad”. 




Estas são as amostras vibratórias por excelência e têm também um lugar reservado na nossa mala de acessórios de pesca. Para estas amostras com um compósito mais rígido, logo mais reactivo, mais nervoso, mais vibrante, podemos pedir algo diferente. Enquanto que nas amostras moles temos forçosamente de lhes dar vida, através de toques de ponteira, as rigidas não necessitam, basta a simples recuperação linear, e elas fazem o resto. Por serem mais duras, oferecem resistência ao deslocamento, e por isso emitem vibrações. Se o nosso pesqueiro é baixo, temos a água agitada, movida pelas ondas e temos muito ruído de ressaca nas rochas. Aqui, um vinil formato shad mais rígido, com pala, tem vantagens evidentes. Vamos sobrepor ao barulho da rebentação, o do nosso vinil rígido, mais curto, que emite vibrações suficientes para poder ser detectado pelo predador. Sem sombra de dúvida são as mais procuradas pelos nossos pescadores, mas apenas por uma questão de conforto, de facilidade de pesca, se quiserem, por malandrice. Basta lançar e recuperar a linha. A “não pesca” pode sempre ser atribuída a outras razões, à lua, à maré, à redes, aos astros, …mas nunca ao facto de estarmos a trabalhar mal a nossa amostra, ou termos feito a escolha errada. No caso dos shads, o ângulo que a sua cauda forma, mais ou menos inclinado, pode alterar os nossos resultados. Mais inclinado permite mais escoamento de água, logo uma natação mais fluída, menos vibrações. Mais perpendicular faz mais atrito, trava mais a amostra, logo mais resistência, mais pressão na recuperação, mais vibrações. Lembrem-se: quando são demasiadas, podemos estar a afugentar o peixe e não a atraí-lo. Tudo o que não seja natural provoca medo, rejeição. Nestes casos, em que pescamos em zonas muito massacradas, o peixe tem referências relativamente ao tipo de vibrações que escuta e sente. Já viu aquele filme, já viu colegas seus serem presos pelos anzóis, e guarda algumas reservas. Estas reservas de comportamento são aquilo que designamos na gíria por “ estarem muito escaldados”…e é um bom ponto de partida para sermos mais assertivos nas nossas opções. Nós ensinamo-los, mas eles também nos ensinam.



E como escolher quando pescamos num pesqueiro fundo? Aqui, a escolha é ainda mais evidente. Sabemos que o nosso shad de cauda rígida tem boas vibrações, mas também sabemos que vai oferecer muita resistência à descida. A pala vai fazer pressão, e vai funcionar como paraquedas. Não desce! Se oferece resistência quando enrolamos a nossa linha no carreto, também oferece resistência quando queremos que baixe ao fundo. E nós precisamos que desça e muito rapidamente. Se pescamos na vertical, nada pior que ter a amostra a passar debaixo do barco para o outro lado. Quem pesca a favor da corrente está bem, quem pesca ao contrário, no outro bordo do barco, aquele para o qual o vento ou a corrente, ou ambos, empurram, está sempre a sofrer. E já se sabe que tentar compensar a falta de descida com mais peso no cabeçote de chumbo, significa que sim, desce, mas a animação que lhe podemos dar fica comprometida. Trabalha mal. É um pedregulho ao qual está acoplado um vinil. Assim, nestas circunstâncias, optamos por uma amostra que ofereça menos resistência, um slug. Se o nosso vinil for acoplado a um chumbo cuja cabeça tem uma forma cónica, melhor, porque desce mais rápido. Em pesqueiros fundos, o enfoque é dado à velocidade de descida, quer utilizando amostras que ofereçam menos resistência, quer linhas trançadas próprias para o efeito, afundantes, o designado modelo “sinking”, em diâmetros finos. 

Quando falamos de utilização, é bom referir o seguinte: não adianta ter o peixe no pesqueiro, se não sabemos o que fazer com a amostra, que até pode ser a certa para aquela circunstância. Não basta lançar uma amostra e já está. A velocidade de recuperação e os impulsos que lhe damos, podem ser determinantes para obtermos sucesso ou não. Há uma velocidade de recuperação óptima, em função das condições de mar e até da altura do ano. No Verão, com águas quentes e peixe muito activo, a velocidade não é a mesma que utilizamos no Inverno, com o peixe meio letárgico pelas águas frias, certo? Fazer uma recuperação muito lenta pode ser desmotivador para o peixe, que tem muito tempo para seguir e analisar o engano, e uma recuperação demasiado rápida, pode tornar inviável a nossa captura, porque a partir de um certo ponto, a amostra já não trabalha, apenas se desloca a uma velocidade impossível e pouco natural. Não esqueçam que os peixes tendencialmente optam por comer os mais fracos, os mais lentos, aqueles que pressupõem um menor dispêndio de energia. Este é um actor chave: aquilo que se pretende comer tem de aportar mais energia do que aquela que é consumida para o caçar, sob pena de haver défice. E a natureza sabe fazer isto muito bem, um predador não se “esfalfa” atrás de algo que é demasiado pequeno para valer uma corrida, ou demasiado rápido para obrigar a um grande consumo de calorias. Por isso, sempre que compramos uma amostra nova, teremos sempre de ensaiar a sua mais produtiva velocidade de recuperação. Os robalos preferem menos corridas, mas os lírios adoram-nas….e por isso temos de ser mais activos quando os procuramos. 

Este modelo tem um cabeçote de chumbo embutido dentro do próprio vinil.


Assim, existe uma amostra certa para cada tipo de pesca, e cabe-nos a nós saber ler a água, e saber decidir em função das características do nosso pesqueiro, qual o vinil que mais se adequa àquela situação especifica. No fundo, e como sempre, teremos de pensar a pesca, antes de a executar. 
E os resultados aparecem.


Vítor Ganchinho




3 Comentários

  1. Já alguma vez lhe aconteceu estar a pescar com vinil, no caso os da savage, mais precisamente os shads, e o peixe andar a ferrar o vinil e não ficar preso no anzol?
    Eu tenho uma sugestão para colmatar essa questão mas no fundo ainda não consegui na perfeição criar algo que seja prático e rápido.
    Tem alguma sugestão?

    No caso os vinis que uso são os savage gear mini sandeel kit com cabeçote de 7 e 10gr.

    Obrigado

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    Respostas
    1. Bom dia Luis Teixeira

      Esta é uma questão interessante e que merece ser olhada com cuidado. Vou fazer-lhe uma análise em detalhe e publicar ainda hoje.

      Abraço!!

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    2. Obrigado pelo cuidado.

      Abraço!

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