Pargo de 9.6 kgs com linha fina, …muito fina….

Por vezes acontecem coisas que nos levam a pensar que os limites de pesca estão ainda muito longe de ser encontrados. 
E efectivamente estão. Temos à nossa disposição materiais cada vez mais eficazes, mais resistentes, mais finos. 

Em termos genéricos, quando um pescador procede à compra de uma linha trançada para o seu carreto, normalmente opta por um diâmetro muito acima do necessário, por uma questão de medo. 
Medo de falhar no momento H, medo de a linha romper, e com isso, perder o peixe da sua vida. É o medo que nos faz pescar pior, porque quanto mais grossa, mais limitações nos impõe. 

Raúl Gil com um pargo de 9,6 kgs, pescado com um terminal de nylon 0.18mm, ...


Se a quantidade de fio mais volumoso nos reduz drasticamente a capacidade do carreto, ainda assim permite pescar. Por aí, só por isso, não vem mal ao mundo. Mas os inconvenientes não se ficam por aqui. 
O tempo de descida da nossa baixada é aumentado de forma proporcional ao diâmetro da linha. Quanto mais grossa, mais atrito provoca, e mais tempo leva a descer. Até a chumbada chegar ao fundo …não estamos a pescar. 

Ao fim do dia, e somando os segundos a mais que esperámos pela chegada das iscas ao fundo, são muitos minutos de “não pesca”. A alternativa é colocar mais chumbo. Uma chumbada mais pesada vai ainda limitar-nos mais. Desce mais depressa, mas vai reduzir-nos a capacidade de ferragem dos peixes. E quanto mais fundo, …pior. Não esqueçam que quando damos pelo toque, isso é algo que já aconteceu antes, a linha é puxada por algo que esteve a 80 metros, …mas foi algumas fracções de segundos antes. 
Quanto mais demoramos a reagir, mais tempo passa entre o momento certo de cravar e aquilo que conseguimos fazer a seguir. Por vezes ainda dá, mas muitas outras, …já chegamos tarde. 

São gestos técnicos que muitas pessoas desprezam, mas que são bastante significativos. Ao fim do dia, a diferença entre um pescador comum e alguém que faz pesca de competição são os pequenos detalhes. E a caixa de peixe. 
E que pormenores são esses?
Por exemplo o facto de começarmos a preparar as iscas apenas depois de a baixada chegar cá acima ao barco. É comum. O momento de o fazer é antes, quando a chumbada está a ir para baixo. Esse é um tempo morto que pode e deve ser aproveitado para organizar a nossa zona de pesca, cortar iscas, limpar algum sangue que tenha escapado do peixe anterior, secar as mãos, etc. E com isso se ganha muito tempo de pesca efectiva. 

O resultado pode ser o de pescarmos muito menos do que os colegas do lado. Quer em termos de tempo, quer em termos de resultados, de peixe na caixa. 
Ajustar o diâmetro da linha ao resto do equipamento e ao tipo de peixe que pescamos pode ser o primeiro passo para uma saída de pesca proveitosa. Menos chumbo resulta em maior e mais rápida capacidade de reacção ao toque do peixe. 

Quando se pesca com artificiais, ou seja, com amostras que são ao mesmo tempo a isca e o chumbo, é ainda mais importante ter linhas de baixo diâmetro. E muito boa qualidade. 
Há pessoas que levam ao limite a sua capacidade de pescar fino. São desde logo pescadores de fino recorte técnico, sabem muito bem o que fazem, e têm uma experiência de longos anos a pescar desta forma tão ligeira. 
Se quiserem, em resumo, ….têm boas mãos. 



Trago-vos hoje o espantoso caso de um amigo meu, o Raúl Gil Durá, de Valência, pessoa muito habitual aqui no blog, e que resolveu sair no seu kayak para pescar pargos com jigs ligeiros. 

Já aqui vos tinha referido inúmeras vezes que eu pesco pargos de bom tamanho com jigs muito ligeiros. E linhas condizentes com essa ligeireza. Não me sinto “a menos” com o meu equipamento, porque a aparente fragilidade é aquilo que me permite ter dez vezes mais picadas que os meus colegas de pesca. E de muitas picadas faço algo, enquanto se as não tiver, não faço nada!
O Raúl, seguramente um dos melhores pescadores europeus de Light Rock Fishing, elevou ao expoente máximo essa dificuldade e pescou um pargo de 9.6 kgs de peso, com uma linha trançada fina, muito fina! Com uma resistência de 4 libras, (1.8 kgs), poucos se atreveriam a fazer um lançamento numa zona de pargos grandes. 

No fim de tudo, estão as mãos da pessoa que trabalha o peixe. Quando se tem qualidade, quase tudo é possível.



Foi pelos…”cabelos”, mas foi. Os ganchos da fateixa estão quase abertos, o anzol assiste à cabeça do jig abriu, mas por ter ficado enrolado na rede.
Apenas uma cana macia, parabólica, com acção 1-7 gramas poderia permitir que o peixe não conseguisse encontrar um ponto de apoio, uma resistência fixa, para poder partir a linha. 
Uma cana mais dura, mais forte, teria permitido a rotura da linha. 
Neste caso, podemos estar a tratar de um recorde IGFA, e isso está a ser tratado em Espanha neste momento. 



As mãos de quem sabe muito de pesca e está perfeitamente convicto de que, caso aumente a espessura da linha, deixa de ser tão eficaz. Porque deixa de conseguir fazer com que os seus minúsculos jigs cheguem ao fundo no momento certo, deixa de conseguir animar o jig tão bem, e isso retira-lhe picadas. 
A questão da utilização de um chicote de nylon de 0.18mm tem a ver com o equilíbrio entre o trançado e a linha de carreto. De que vale ter um leader mais grosso e resistente se a carga de rotura do trançado é francamente inferior? 

Este é outro pargo. Nas últimas quatro semanas o Raúl já leva mais de 10 pargos de grande tamanho, acima de 6 kgs, a pescar com vinis, ou jigs ligeiros.


Pesca a pouco mais de 20-25 metros de fundo, sai em kayak, o que quer dizer que aproveita muito bem os peixes que estão junto à costa, a comer peixe miúdo. Volto a repetir: o peixe grande também morde presas pequenas….
Uma lula de 5cm, um alevim de 3 cm, um caranguejo de 2 cm também são….comida. E comida fácil de capturar. 

Quando pescarem, tentem entender se é mesmo necessário utilizar linhas zero grosso, daquelas que nunca partem, mas que vos retiram a possibilidade de ser eficazes e conseguir as picadas que outros …conseguem. 
Tudo começa por ter contacto com o peixe. Sem isso, nada feito, e está nas mãos de cada um decidir com que equipamento pesca. O resto é... técnica. 


Em nome de toda a equipa GO Fishing Portugal que faz o blog, quero desejar-vos a todos um feliz ano de 2021, com linhas bem esticadas!





Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. E ainda por cima um dentão de facto incrível.

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  2. Boa tarde Bruno Não deixa de ser espantoso aquilo que se consegue fazer com uma linha tão fina. Eu utilizo a Morethan 12 fibras, da daiwa, ou a Rapinova, da Rapala, em diâmetros de 0.06 ou 0.04mm e faço pargos de 5 kgs, mas isto é de uma capacidade técnica impressionante! Grande Raúl. Quando me ligou, logo a seguir a ter capturado o pargo, disse-me que tinha o coração a mil! E é caso para isso, trata-se de uma captura excecional, de enorme qualidade. Pelo peixe, que é bom, e pelo equipamento, que é super frágil. O Raúl é tão bom tecnicamente que consegue fazer isto. Ele estava muito excitado durante o combate, e tinha boas razões para estar. E claro, ficou hiper feliz quando conseguiu concretizar a captura, com nervoso miudinho. Mas não é isso que todos nós procuramos quando vamos pescar?

    Um bom ano para si, Bruno!

    Abraço

    Vitor

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