A fotogenia dos peixes e das pessoas

A maior parte das pessoas leva dias e dias à espera do fim-de-semana para poder fazer aquilo que mais gosta: ir lançar linhas.
Admito que seja uma decepção enorme ver chegar o sábado e o domingo e ter uma ventania que inviabiliza a saída, e força a uma espera de mais 8 dias.
Acontece e sendo leis da natureza pouco podemos fazer. Mas quando as condições são boas, ou pelo menos suficientes, eis que eles aí vão, carregados de armas e bagagem, e uma tonelada de esperança.

Mesmo com pouco peixe (haverá algum pescador que admita haver alguma vez ….muito peixe…?) disponível, ainda assim de quando em quando aparece um bom exemplar. E isso deveria ser motivo de alegria e felicidade para quem tem a sorte de o pescar.
Com o advento dos telemóveis, cada vez mais as pessoas registam as suas capturas em fotos para a posteridade. E se é verdade que já aqui falámos sobre tipo de enquadramentos, combinação de cores, exposição solar, etc, ficou a faltar dizer algo que, por ser tão evidente, na altura nem me pareceu importante: devemos deixar transparecer cá para for a alegria que nos vai no peito. Isso transparece para quem irá ver essa foto. E é aí que a porca torce o rabo, que é como quem diz…nem todos os “modelos” se dão ao trabalho de fazer cara alegre.
E acabam por ser os peixes, seguramente muito menos habituados a posar em frente aos aparelhos fotográficos, quem fica melhor nas “chapas”.

Se acham que a um êxito, a um bom peixe, deveria corresponder uma foto com um sorriso largo e bem disposto, pois enganam-se redondamente. O ar austero que fazem, transporta-os para uma pose napoleónica, de chefe de estado, que na circunstância nem seria a mais indicada.
Por vezes a pessoa está muito bem disposta, mas quando chega o momento da foto, tudo muda. E isso tem a ver com fotogenia, com estar à vontade em frente a uma lente.

Vou dar-vos alguns exemplos de rapaziada amiga que, sabendo eu que estão felizes por dentro, não o demonstram minimamente por fora.
Senão vejamos estes exemplos:


O meu amigo Stefano, piloto italiano de aviões de combate reformado, que quando vem a Portugal não deixa de me aparecer para uma saída de pesca. Ele adora Portugal! Mas faz estas caras de zangado, quando na realidade, está sempre feliz da vida. Aqui, um chefe de clã de uma aldeia basca não faria pior. Durante uma visita que fiz ao país basco, aquilo que vi durante uma semana enquanto pedalei pelos picos íngremes dos Pirenéus, foi isto. E as pessoas estavam até felizes da sua vida.


Isto é considerado um sorriso aberto, para ele. Uma pobre bica, que se lançou a um jig de 30 gr da All Blue


Ora bolas: o robalo é curto, mas merece sempre uma foto de cara alegre...


E até este pargo das Canárias, feito em Sines, merece melhor cara!...



Outros, serão porventura voluntariosos demais, e exibem sorrisos desbragados que serão porventura excessivos. Para obter este sorriso, tive de perguntar-lhe à quanto tempo “não picava o ponto”. A abrótea, um exemplar de 3 kgs, dada a velocidade de recuperação, ficou com os olhos esbugalhados, e também por isso não ficou melhor. 


Fiz esta foto há uns anos e acho que aqui consegui captar perfeitamente a alegria que ia dentro da alma do Raúl Gil. Um pequeno lírio, pescado com um vinil sardinha da Savage.


Este é o tipo de pescador sofredor. É verdade que o lírio é bom, tem peso, mas no momento de o levantar há que fazer um esforço no sentido de mandar cá para fora um sorriso. Estes peixes fazem-se facilmente com jigs, ou com isca viva, normalmente em baixas afastadas da costa, ou lugares pouco visitados. Fiz lírios destes em S. Miguel, à caça-submarina, a sair da pedra à barbatana, na zona do Faial da Terra. Logo, a poucas centenas de metros de terra.


Em caso  de dúvida, aplicamos-lhe uma máscara e está o assunto do sorriso resolvido.


Tudo me parece melhor que mostrar o aparelho dos dentes...


Este peixe mostra os dentes, mas não por se estar a rir desbragadamente.


Quando a dúvida é extrema, necessitamos de medidas extremas. Tapa tudo!



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Bom dia Vitor,

    Esse lindíssimo pargo das Canárias merecia efetivamente um melhor enquadramento!

    Grande abraço,
    A. Duarte

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    1. Boa tarde António Isto é só um exemplo das caras que me fazem quando eu quero fazer umas fotos para a posteridade.

      Haja alegria. Tenho uma coleção de rapaziada com caras sisudas que nem imagina. O pessoal saca os peixes e está bem alegre. Quando é para a pose para o álbum de memórias, faz uma cara de enterro, .....

      Cheguei agora do mar. Deu pargos e robalos, com jigs de 20 grs. O peixe está muito baixo...nem vale a pena ir aos fundões, que estão quase desertos.

      Domingo vou sair de novo.


      Abraço!

      Vitor



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