Há pessoas que nunca tiveram oportunidade de pescar com uma cana de carreto invertido. Falamos de canas que trabalham com os passadores virados para cima, de forma a dar-nos a possibilidade de actuar sobre o carreto em boas condições de acessibilidade.
É um sistema muito prático, e muito confortável. Tem sobre o carreto convencional algumas vantagens, nomeadamente a maior velocidade de saída da linha, a possibilidade de podermos bloquear a linha de imediato, caso se suspeite de uma picada obtida na descida, (pescamos com linha multicolor, marcada a cada 10 metros com uma nova cor. Na primeira descida, reparamos qual a cor que corresponde à chegada ao fundo. Se a linha pára antes, noutra cor…temos peixe) e também a robustez do sistema, versus carreto comum, a força que é possível fazer com cada um destes sistemas.
O trabalho do dia de hoje é fazer algumas comparações entre as diversas possibilidades e também falar um pouco do apoio que a nossa mão pode ter quando pescamos com uma destas canas.
Comecemos pelos carretos de tambor móvel, versus carretos de tambor fixo.
Se no carreto convencional a linha sai através de desenrolamento lateral, roçando o bordo superior da bobine, sofrendo aí um atrito que seria desnecessário (quando queremos que o jig chegue ao fundo rápido tudo aquilo que não nos convém é que haja retardamento…) e com isso retirando-nos algumas possibilidades de pescar jigging na vertical, logo prejudicando a animação da nossa amostra, por outro lado o bloqueio do sistema também é mais lento. Fechar a alça e começar a manivelar pode levar algumas fracções de segundo, e esse tempo pode ser o suficiente para que a deslocação do barco nos encalhe os anzois na pedra.
E temos aí uma chatice das boas, porque podemos perder o jig.
Também acontece que, quando pescamos com carretos pesados, digamos na casa dos 500gr ou mais, podemos sentir-nos fatigados por estar a operar com o nosso equipamento após algum tempo. Nesse aspecto, os carretos de tambor móvel levam uma vantagem acrescida, já que são bem mais leves, cansam menos.
Quando queremos pescar fino, estamos a pôr a cabeça no cepo. Ou a linha é boa e permite pescar fino, ou mais vale ir para diâmetros acima, com as desvantagens que isso traz, nomeadamente a descida mais lenta, etc.
Perdi a conta a quantos peixes de qualidade fiz com este carreto. Passo-vos duas:
Os meus inseparáveis jigs de 30 gramas, marca All Blue, cor sardine, que tantas alegrias me têm dado, e continuarão a dar, até as pessoas se convencerem de que efectivamente funcionam. Nesse dia, acaba-se o meu exclusivo de pesca, porque os meus colegas pescadores irão começar a largar a pesca com navalha e ganso coreano, ameijoa e essas bugigangas todas que lhes moem a cabeça com tanto peixe miúdo. |
Pescaria feita com o carreto descrito acima, o Daiwa Saltiga Bay Jigging, BJ 200. O modelo mudou de cor para negro, mas basicamente é a mesma coisa, mesmas características. É ver abaixo. |
Mas nem tudo é mau nos carretos convencionais: se estiver algum vento, dão-nos a possibilidade de fazer lançamentos para a frente, tentando conciliar a deriva e o tempo que ela leva a fazer, com o tempo que o jig leva a descer. Aqui, a vantagem é toda do carreto standard, já que o careto de jigging não nos permite fazer lançamentos longos.
É uma peça para ser utilizada para lançar na vertical e esgota aí as suas possibilidades. Comparando, não tenho quaisquer dúvidas: o carreto para jigging é o desmultiplicador, o de bobine móvel, um dos Saltigas que vêm acima.
Vejamos agora a questão do tema central de hoje, a questão do “gatilho” da cana:
Escrevi-vos há dias sobre a questão do sistema Shimano, o X-Seat, e falei muito bem dele. Como falar mal? Efectivamente trata-se de um “up-grade” ao sistema de gatilho, já que considera importante todo o apoio da mão, e não apenas de um dedo. Existem versões com mais ou menos apoio, e ainda soluções para esquerdinos ou destros. Nada pior que tentar pescar com a cana na mão errada. Cada um de nós aprende a pescar de uma forma e leva-a até ao fim da sua vida. Se no Japão aquilo que é corrente é trabalhar o carreto com a mão direita, nós na Europa fazemos o oposto, seguramos na cana com a mão direita e enrolamos linha com a nossa mão esquerda. Tudo depende da forma como se aprende, e não há um sistema melhor que outro. O inconveniente é apenas para os fabricantes, que têm de produzir equipamentos para as duas opções de pesca.
Aqui o têm, o X- Seat da Shimano, para mão direita. O carreto é um Daiwa Saltiga 10 HL, que equipo com linha fina, 0.08mm, mais que suficiente para me permitir pescar peixes até 5 kgs. |
Detalhe do punho, com a inclinação certa para a mão direita. Existe o oposto, para quem segura na cana com a mão esquerda, e basta referir esse facto aquando da compra. |
Na GO Fishing Portugal importamos este tipo de canas, e podemos personalizar, de acordo com aquilo que é pretendido. À minha, cortei cerca de 12 cm, para obter a consistência e acção certas para a pesca que faço, que por vezes envolve exemplares de maior porte. Ficou mais rija, a ferrar melhor, e não deixa de ser uma cana elástica, com muita reserva de potência.
Muita atenção a isto: o acto de ferragem não deve ser deixado ao acaso, já que dele depende em grande medida tudo aquilo que irá passar-se a seguir, e eventualmente o sucesso da captura. Devemos fazê-lo sempre, cravando o anzol bem fundo na boca do peixe. A partir daí, o trabalho de recuperação pode começar, mas só depois de garantido que não esquecemos de fazer pressão forte com a cana para cima, contrariando o movimento natural do peixe, que procura a profundidade. Se temos alguma embraiagem no carreto, ou bem que bloqueamos a linha com o dedo polegar, ou não estamos a fazer nada. A um acréscimo de pressão corresponde uma saída de linha e o anzol não crava. O peixe agradece isso...
Vítor Ganchinho