A importância das termoclinas na pesca à linha - Capítulo 1

Não sabemos tudo sobre pesca e sobre os peixes. E ainda bem.
Felizmente, e pese embora hoje em dia tenhamos cada vez mais informação, e se caminhe a passos largos para desvendar muitos dos segredos da pesca, ainda assim há muito por saber.
Quando julgamos saber já o suficiente, vem um dia em que os peixes nos mostram que afinal ainda nos falta algo. Na minha opinião, continuaremos durante muitos anos a não saber tudo de tudo.
Ter uma fórmula infalível para capturar peixes é assustador. Não faz falta nem se recomenda. Precisamos que os nossos peixes nos continuem a escapar, a ter as suas possibilidades de sobreviver.
Mas é da natureza humana querer controlar, querer dominar e isso passa também por dar passos no sentido de conseguir impor as nossas regras aos outros seres. Sabemos como termina, temos muitos exemplos de extinção de espécies à conta da nossa ganância e ambição desmedida. Na verdade, nunca nos chega. O povo espanhol tem um ditado que diz: “é a ganância que rebenta o saco”….
Felizmente os peixes encontram sempre forma de contornar os nossos esforços de os aniquilar de vez. Quando pensamos que temos saber e equipamentos suficientemente bons para pescar sem limites, eles fazem-nos lembrar que ainda não é bem assim.
Mas indiscutivelmente sabemos hoje mais sobre os peixes que pescamos. E à medida que aprofundamos os nossos conhecimentos, estaremos mais perto de encontrar a pedra filosofal, a técnica mágica que nos conduzirá ao sucesso garantido. É assustador pensar no significado desta palavra “garantido”.
Sei que vamos continuar a procurar a forma de os destruir. No entanto a morte de um peixe não deve ser confundida com uma vitória humana. No mar, há que saber dar e receber, há que dar mais e mais importância ao facto de podermos estar por ali, em harmonia, em detrimento da ideia de que é bom matar o número máximo de peixes. Não é tanto o facto de se pescar, aquilo que há a valorizar mesmo é o poder …estar à pesca.
Acredito que sabermos mais sobre eles, saber um pouco mais sobre o tremendo esforço que fazem para se manter vivos, pode trazer-nos um maior respeito pelos nossos peixinhos, uma melhor perspectiva de como nos podemos relacionar com eles.




Vou hoje dar-vos uma ideia de como por vezes há explicações muito simples para o facto de o peixe não comer, não se importar com as nossas iscas, não ter a atitude agressiva habitual.
Pode ser interessante entender porque mudam de comportamento de um dia para o outro.
Aí vai, um trabalho sobre…termoclina.

Os peixes, seres de sangue frio, mudam de comportamento ao longo do ano, em função da temperatura das águas, e do grau de exigência física que estas lhes determinam.
Águas muito frias pedem um maior consumo de energia. Por isso, os nossos peixinhos estão mais acima, quase à superfície, ou a meia água, ou ainda mais fundo, colados às rochas, em função das termoclinas.
Mas afinal, o que é isto das termoclinas? Que estranho fenómeno é este que determina o posicionamento dos seres vivos na coluna vertical de água? Trata-se de uma variação de temperatura por faixas horizontais, que é gradativa, que altera em função das unidades de profundidade que consideramos.
Podemos analisá-la considerando apenas poucos metros abaixo da superfície, ou tendo em conta ordens de grandeza na casa das centenas de metros. Por princípio, e olhando ao factor radiação solar, quanto mais descemos mais frias são as águas.
No Verão, é muito natural que as águas estejam mais quentes à superfície, da mesma forma que no polo oposto, no Inverno rigoroso, com temperaturas negativas durante a noite, os peixes se vejam obrigados a afundar para poupar energia gasta a manter a temperatura do corpo estável.
Esta estratificação térmica vertical pode ser mesmo muito significativa, com diferenças de vários graus centígrados, por vezes mais de 10ºC.
Quando temos águas que permanentemente são frias, por exemplo nos polos, com gelo, designamos isso de homotermia.
As águas salgadas com diferenças significativas de temperatura tendem a não se misturar, formam como que patamares entre si. Eu, que mergulho há umas dezenas de anos, tenho observado este fenómeno centenas de vezes: água quente à superfície e um gelo em baixo. Fatos de mergulho com 5mm de espessura são suficientes até aos 10/ 12 metros e de repente, alguns metros abaixo, ficamos gelados, transidos de frio, o tempo de apneia encurta drasticamente e temos de sair dali e procurar outras zonas.
Nesses dias, não se avista vivalma pelos fundos, o peixe afasta-se para onde pode encontrar melhores condições térmicas, até que essa situação passe.
É ponto assente: água quente à superfície não significa água quente no fundo, e vice-versa. Se no Verão temos águas mais quentes à superfície que no fundo, no inverno é o contrário. Embora a nível de oceano estes contrastes sejam mais significativos a profundidades entre os 300 e os 1000 metros abaixo da linha de água superficial. Na verdade podemos constatar que em águas superficiais, na ordem das poucas dezenas de metros, estas diferenças já existem de forma muito marcada. De resto, aparecem nas sondas como linhas horizontais contínuas, paralelas.
Não têm necessariamente de ser constantes, de carácter permanente, definitivas, e são influenciadas pela estação do ano, pela turbulência das tempestades, ventos, correntes, e ainda da exposição à radiação solar.
A um nível superior, bem perto da superfície, (e isto interessa aos pescadores de robalos), este fenómeno de aquecimento ou arrefecimento da água, determina o sucesso ou insucesso das nossas tentativas de encontrar peixes.
O ciclo de aquecimento e arrefecimento da camada de água superficial, em função do dia ou da noite, ou seja da presença de sol ou não, chama-se de ciclo nictemeral.




Fixem isto: as termoclinas, este gradiente brusco de diferentes temperaturas, estes patamares de águas com contraste de valores em alguns graus, influenciam decisivamente o comportamento dos nossos peixes e não podemos ignorar isso. Os peixes são fisicamente obrigados a olhar a isso, as termoclinas existem! São elas a explicação para alguns dos nossos maiores falhanços de pesca. E se acham que não, então pensem nisto: hoje temos tempo de chuva, céu cinzento e a temperatura da água permite a presença de cardumes na nossa zona de pesca. Pescamos bem, confortáveis, os peixes respondem aos nossos estímulos. Dias depois, o vento rodou a norte, sopra frio e limpa a atmosfera de nuvens. Gera-se uma situação de arrefecimento generalizado. O peixe, que precisa da sua comida por perto para poder satisfazer as suas necessidades alimentares, é forçado a seguir o alimento. São as termoclinas que determinam a distribuição na coluna de água dos organismos marinhos, funcionando como uma barreira, que não é nem pode ser transporta.
As mudanças de temperatura da água implicam diferenças na densidade, viscosidade, pressão, solubilidades de sais minerais, na locomoção e respiração de alguns seres vivos. Por outras palavras, alteram …tudo!




As camadas de água são separadas por faixas térmicas bem definidas, determinadas pelas suas características físicas e químicas, como a temperatura e a salinidade.
A camada mais superficial do oceano tem contacto com ondas superficiais e ventos, o que facilita a mistura das águas e, consequentemente, a distribuição de calor. Há uma passagem de temperatura de uma zona para outra e verifica-se alguma uniformidade. Aqui, os peixes podem evoluir verticalmente, para cima ou para baixo, sem sofrerem desgaste por isso.
Abaixo desta camada superficial (ou de mistura) encontra-se uma camada de transição entre as águas superficiais, mais quentes, e as águas profundas, mais frias.
Essa camada de transição recebe o nome de termoclina, e é facilmente reconhecida por ser a camada em que ocorre uma grande queda ou aumento brusco de temperatura. Pode acontecer uma ou outra situação.
No limite, e para que tenham uma ideia do quanto podemos ser enganados pelas nossas sondas, as termoclinas fazem-nos aparecer traços que podem ser, (e normalmente são!), confundidos com peixe.
Espantem-se ainda com isto: os submarinos, que necessitam de ter uma informação fidedigna do seu entorno já que trabalham exclusivamente com instrumentos, são muitas vezes enganados, confundidos, com a recepção de sinais acústicos que acusam objectos densos, paredes sólidas, que mais não são que as nossas …termoclinas.
A densidade da água é determinada pela temperatura e salinidade. Em oceano aberto, a termoclina promove um gradiente negativo de propagação da velocidade do som. Tecnicamente, a explicação é de que este efeito é resultado de uma descontinuidade na impedância acústica da água, causada pela mudança súbita de densidade.

Sabemos que a temperatura da água do mar à superfície depende da quantidade de energia radiante que recebe, (a insolação) e da quantidade de calor que perde através do processo de evaporação por efeito de condução. Por outras palavras, a superfície do mar é mais quente que o ar que fica imediatamente acima dela e dessa forma o calor pode ser transferido do mar para o ar através do fenômeno da condução. Essa perda é relativamente pequena considerando-se o balanço total de calor do oceano e seria desprezível se não houvesse também a ação da mistura convectiva produzida pelos ventos que remove a camada mais quente logo acima da superfície. A evaporação é o mecanismo principal através do qual o oceano perde calor para a atmosfera. Certamente já repararam numa ligeira camada de “nevoeiro” fino que se eleva sobre a superfície das águas, em determinados dias de Inverno ou Primavera. Tem a ver com isto que vos trago aqui.
As águas polares, por outro lado, possuem pouca incidência solar, não formando termoclinas, visto que as águas superficiais destas regiões são tão frias quanto as águas mais profundas.
A termoclina é a interface entre uma camada de água mais quente, mais rasa e com densidade mais baixa, e uma camada de água mais fria, mais profunda e com densidade mais alta.
A mudança de temperatura entre as camadas pode ser abrupta, com uma diferença tão grande quanto de 8° a 11° C, apesar de diferenças menores serem mais comuns. As termoclinas existem tanto em águas salgadas como em águas doces e tendem a ser mais evidentes em corpos de água relativamente parada. Por isso, no Inverno em Portugal, por força dos temporais, e da mistura de águas que promovem, acabamos por ter menos fenómenos deste tipo.
A maior parte da energia incidente nos oceanos é absorvida nos primeiros metros de profundidade. Essa energia aquece diretamente os oceanos fornecendo energia para formação das moléculas orgânicas e a realização da fotossíntese. Por isso há muito mais vida nos primeiros metros que muitas centenas de metros abaixo.
O mar encontra-se mecanicamente e termicamente acoplado à atmosfera. As interações mar-atmosfera têm acentuada importância para o estudo das características climáticas terrestres e para o conhecimento das variações, no tempo e no espaço, das propriedades da água do mar. Alguns aspectos da Oceanografia, como por exemplo, temperatura da superfície do mar, densidade da água marinha, etc, são também de importância para a Meteorologia. No caso da temperatura da água do mar, considera-se a troca de calor entre os meios (atmosfera-oceano) e também a troca de calor dentro do próprio oceano.
E como afecta os peixes? Sabemos que alguns tipos de peixes toleram muito mal as águas frias. Os pampos, “ Balistes carolinensis”, por exemplo, deslocam-se aproveitando as correntes de águas quentes, e chegam a nós por volta do mês de Maio, Junho. Muitas vezes a acompanhar tufos de algas de sargaços, ou paletes perdidas no meio do oceano. São pois pelágicos e fazem a sua vida dessa forma. E vão embora na sua esmagadora maioria em Outubro, Novembro. Depende das temperaturas das águas, mas o principio é este. Estes peixes fazem migrações de milhares de quilómetros, saem para os Açores, para a Mauritânia, Marrocos, etc. São migradores de longa distância, com trajectos anuais. Mas temos peixes como os nossos sargos, que vivem circunscritos a uma determinada zona. As suas migrações são curtas, sazonais, não abandonam o nosso país. E esses fazem deslocações, que até podem ser diárias (!), na coluna de água, verticalmente. São pois uma espécie que migra verticalmente, e que por isso enfrenta mudanças de temperatura e densidade de água, nas quais se incluem as ditas termoclinas.
Não saberemos ainda tudo sobre as razões que levam os peixes a deslocar-se de uns lados para os outros, mas seguramente que o fazem por razões que se prendem com factores como reprodução, (as nossas douradas do Sado são um bom exemplo), alimentação, para fugir a uma massa de predadores ou por inclemência das condições de tempo. De certeza que a cada movimentação corresponderá uma necessidade biológica inadiável, ou não a fariam. Razões como a quantidade de luz disponível ao longo do dia, temperatura da água à superfície, quantidade de sedimentos, etc, forçam o peixe a deslocar-se. A própria formação das gônadas sexuais, (testículos e ovários), a maturação dos gametas, é promovida e acelerada por estas alterações de ambiente. E temos mais uma razão para que os peixes se vejam forçados a encontrar a sua temperatura de água ideal. Aos poucos, começamos a entender as razões pelas quais os nossos dias de pesca não são todos iguais. Dá-se ainda o caso de, por exemplo, haver visitas a pedras onde o peixe normalmente está, e em que, a determinadas horas, é “mais conveniente” que não esteja. Eu que saio muitas vezes durante a semana para ir pescar, bem vejo a reacção do peixe à passagem diária dos golfinhos…
Estas ausências e retornos, acabam por potenciar o aproveitamento alternado de umas e outras espécies dos recursos que um pesqueiro pode oferecer. Diferentes espécies gerem de forma diferente recursos existentes na pedra, e isso já nos traz algo de novo. Também devemos considerar que alguns peixes, nomeadamente os robalos e os pargos, utilizam a maior ou menor quantidade de luz diurna como estratégia de caça. Sabemos que são duas espécies que caçam melhor na penumbra. Assim sendo, podemos considerar que ao raiar do dia, ou ao anoitecer, certas espécies de peixes podem “preferir” não estar onde as iremos seguramente encontrar algumas horas mais tarde, noutras condições de luminosidade. E isso muda a nossa percepção de “migração”, porquanto se refere apenas a um determinado momento do dia.

Vamos ver amanhã um pouco mais sobre este fenómeno de entrada e saída de pesqueiros, e de migrações verticais de alguns dos peixes que num determinado momento pescamos e a seguir vai embora e …já não pescamos.



Vítor Ganchinho



6 Comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Olá Vitor.
    Gosto especialmente destes seus posts; desvendar os fatores que influenciam o comportamento (predador ou defensivo) dos nossos desejados e saborosos amigos.

    No passado sábado, lá fui eu para a Figueira da Foz com o meu kayak.
    Maré a descer, temperatura da água 14º; nevoeiro, chuva vento, algumas ondas ... mas é verão, que raio e lá fui eu sem casaco. Quando cheguei ao Cabo Mondego, a sentir-me miserável, já estava pronto a regressar. Ainda assim, insisti com o trolling e começaram a sair uns robalos. Primeiro espécimes pequenos que devolvi, mas depois lá começaram a sair os maiores, até que apanhei o trofeu do dia, um robalo com 3 kg, que serviu para me aquecer um pouco e me deu alento.
    Foram 6 horas de atividade (o sol apenas apareceu no regresso à marina) com 30 km percorridos e uns bons peixinhos para a sopa :)

    Mas que raio, 14ºC no verão? e com profundidades máximas de 15mts, não tenho "termoclina" que me safe :)

    Abraço!
    Paulo Fernandes

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    1. Bom dia Paulo Fernandes Parece-me importante que as pessoas tenham uma visão tão abrangente quanto possível daquilo que pode condicionar o comportamento dos nossos peixes. Nós podemos não entender as razões, podemos atribuir a causas estranhas, a azar, a um dia de signo menos positivo, mas eles sabem sempre, e muito bem, as razões pelas quais estão aqui ou ali. Este ano aqui deste lado tem sido um ano atípico, com águas particularmente tapadas, com muito sedimento, a obrigar a saber um pouco mais para obter resultados. Há peixes, mas são merecidos. Eu estou a sair à água 3/4 dias por semana, e ando cansado. Porque levo muito poucas pessoas de cada vez, não consigo baixar o número de inscritos. Deixei de fazer os cursos de LRF, porque praticamente só tenho tempo para levar as pessoas uma vez. E isso implica resumir bastante aquilo que posso transmitir em cada saída. Estão mais de 100 pessoas inscritas para sair, não consigo fazer muito mais que isto. Há marcações para Outubro....

      Vamos ver a evolução das coisas, espero que o tempo se mantenha estável e deixe sair.

      É pescar, é ir, é ter os olhos bem abertos e saber entender o que se vê.

      Abraço
      VItor

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    2. Paulo A questão da profundidade é importante, quanto maior mais facilmente poderemos ter termoclinas, mas não subestime a possibilidade de elas poderem surgir em águas mais rasas, quando temos fenómenos extremos. Se acontece termos muito calor diurno, temperaturas de 40ºC por exemplo, é natural que os peixes procurem os fundos, onde a temperatura está mais estável, mais fria, e os níveis de oxigénio são maiores. Mas o oposto também acontece, sobretudo no Inverno, quando temos temperaturas negativas durante a noite, e os peixes são obrigados a afundar, para terem acesso a temperaturas mais quentes. Tente entender o fenómeno à luz de um animal de sangue frio, que é por isso mesmo obrigado a considerar cada grau centígrado, porque isso pode fazer a diferença em o obrigar a gastar mais ou menos energia. Por outras palavras, e de uma forma simplista, quando o Paulo toma banho, ajusta a água do chuveiro de acordo com a temperatura que para si é a ideal. Demasiado fria deixa-o gelado, demasiado quente deixa-o numa situação aflitiva e a necessitar de sair dali muito depressa. È apenas uma imagem, mas que espero que sirva para exemplificar que cada espécie tem um ponto de temperatura ideal.
      Se o Paulo estiver a pescar na zona errada, pode lançar as suas amostras, mas nesse caso, seria melhor sentar-se, não fora o caso de, por definição, já estar sentado, no seu kayak.....

      Abraço
      Vitor

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  3. hahaha, Vitor, é verdade.
    Como procuro o meu peixe?
    Vou onde costumo ter sorte com determinada mareação e clima, ou sigo dicas.
    Depois, tento o jigging se encontro concentração de "coisas", ou "faço piscinas" ao trolling numa área onde o peixe pode estar disperso, relativamente próximo da linha de rebentação (às vezes demasiado), ou sobre formações rochosas ...
    Até há 5 anos atrás, fazia spinnig para as ondas com muito sucesso. Mas desde o Leslie que deixei de conseguir capturas relevantes, apesar de não deixar de experimentar... não entendo porquê.

    Abraço, Paulo

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    Respostas
    1. Os fundos são determinantes para a presença, ou não, dos peixes. Se algo alterou substancialmente por aí, pode ter havida uma deslocação de cardumes para outra zona.
      Por aqui, nós passámos a ter agora peixes que há uns anos não tínhamos. Há espécies que se tornaram residentes e que nem eram de cá. Devemos entender o mar enquanto um meio que está em permanente mutação, que altera em função de variáveis que muitas vezes nos escapam. Dou-lhe dois exemplos: há uns anos, houve uma plataforma petrolífera que veio ao Estaleiro da Lisnave, no Sado. Trouxe com ela ovas de camarão do sitio de onde veio, em África. Durante dois anos, houve camarão tigre, com cerca de 25 cm de comprimento, à solta nas nossas águas. Eu mergulhava e via-os, ( e apanhava-os à mão...!) em todo o lado. Reproduziram bastante bem, e eram um pitéu para grelhar. Depois veio um inverno com águas muito frias, e desapareceram, terão morrido todos.
      Outro exemplo: Há uns 4 anos atrás, tivemos um navio asiático que veio descarregar ao Porto de Sines. Porque fez lavagem dos tanques de lastro, deitou fora uns milhões de litros de água. Nessa água, havia ovos de peixe balão. Sim, o peixe que os japoneses comem e que é altamente venenoso. Eu já provei em Osaka e é mesmo uma especialidade. Os japoneses que cortam o peixe têm de tirar um curso que dura meses e assumem a responsabilidade sobre a qualidade do seu trabalho. Em caso de erro, a pessoa morre em segundos. Pois esse peixe esteve espalhado pela zona de Sines durante um ano. A partir de uma dada altura, nunca mais se pescou, desapareceu.
      Isto para exemplificar que as espécies migram, deslocam-se, muitas vezes até por acção do próprio homem. Mas são as causas naturais que mais promovem essas mudanças. O aquecimento das águas vai trazer espécies muito "estranhas" até nós, peixes tropicais. No Algarve já foi capturado à caça sub um pargo luciano com 7 kgs. É um peixe de África. Não me importava de os ter por cá, porque crescem até aos ...80 kgs.

      Abraço
      Vitor

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