PESCAR BEM, ...COM MIUDEZAS


Falei-vos aqui ontem de fazer Ajing, uma modalidade técnica dedicada quase em exclusivo à pesca do carapau. E, o que não deixa de ser conveniente, com a particularidade de poder ser praticada à noite, em pontões, portos, paredões de cidades, etc. Por outras palavras, a ser possível para uma voltinha a seguir ao jantar, sem obrigar a grandes preparativos, sem consumir demasiado tempo. Porque as pessoas hoje em dia não têm tempo!
Assim, poder disfrutar de um estilo de pesca citadino, sob a luz de um candeeiro, a poucos metros do carro, é algo que pode ser interessante.
Lembro que no meio do barulho das luzes, aparecem sempre outros peixes, cavalas, robalos, etc, sendo que este etc é tudo aquilo que existe em cada zona, e que, de norte a sul do país muda bastante.
O tema de hoje é aliciante! Vamos falar de pescar fino, muito ligeiro, com jigs minúsculos, que não irão exceder os 5 gramas.

Para quem está habituado a pescar com jigs de 250 / 300 gr, isto pode parecer absurdo. Mas não é. É perfeitamente possível pescar, e bem, com estas miudezas.
Abaixo podem ver dois jigs, de 5 gr, na cor rosa e de 3 gr, na cor azul, com os quais eu faço correntemente pescas muito divertidas, muito activas, em que as picadas se sucedem ao ritmo de 2 a 3 por minuto.
As possibilidades de montagem são imensas, desde o tradicional anzol à cabeça, a adição de um pequeno triplo na cauda, só um anzol simples na cauda, …haja imaginação.
Porque na verdade, e dependendo do tamanho dos peixes, tudo funciona.


Para efeitos da foto, apenas encostei o triplo no jig de 5 gr, mas basta-vos adicionar uma argola fendida, pequena, e está montado. Para isso apenas necessitam de um alicate para jigging.


Para quem duvida da eficácia destes jigs, digo que há momentos do ano em que é possível fazer autênticos milagres com eles.
Quando as águas estão quentes, quando o peixe tem possibilidades de subir e vir para os baixios, podem fazer-se pescarias muito interessantes.
Em zonas de cavalas, que mal nos pode fazer se conseguirmos algumas para servir de isca para a madrugada seguinte?
Se é verdade que para os carapaus, são os vinis aqueles que melhores resultados apresentam, também é verdade que esses acabam a médio prazo por se estragar, ( as bocas dos peixes têm dentes e eles são agressivos na hora de morder), pelo que optar por jigs pode não ser uma má solução.
Quando levo as minhas filhas a pescar em zonas onde podem aparecer os pampos, retiro de imediato os vinis e passo aos jigs. Elas não estão autorizadas a pescar pampos com isca orgânica, é um massacre desnecessário e feio.
Os vinis são trucidados em pouco tempo, pelo que resta algo que aguente as dentadas felinas daqueles bichos. Ainda assim, deixam as marcas dos dentes bem vincadas no jig, porque acreditam que estão mesmo a “capturar” um pequeno alevim.
Com uma cana fina, reactiva, linhas finas, uma animação bem feita transforma este pedacinho de chumbo em algo muito verosímil, que os peixes acreditam que é mesmo ao sério, um peixinho perdido, aflito, indefeso. Ou seja, …uma vítima.


Falamos de miniaturas, e um jig de 3 gr é uma “ternurinha”, mas também uma máquina eficaz de pescar. Nas mãos certas, faz estragos.


Há momentos em que um jig deste tipo é francamente mais eficaz que qualquer coisa de tamanho superior. Para quem gosta de assar carapaus e sabe o que deve fazer quando tem a oportunidade certa, ou seja, quando os tem mesmo encostados ao barco e não precisa de lançar, um jig destes pode proporcionar capturas ao ritmo de 3 a 4 peixes minuto.
Não queremos, nem devemos, fazer da pesca uma corrida, mas isto diz bem da eficácia que pode ter uma peça minúscula como esta.
As picadas são sucessivas, o peixe está em cardume, a comer bem, mesmo debaixo de nós, quantas vezes à superfície, à vista, dispensando sequer que se retire linha do carreto, e por isso passamos a depender muito mais do tempo necessário para desferrar. É aqui que ter um bom par de luvas pode fazer a diferença. Desferrar carapaus com as mãos nuas significa cortes e lanhos sucessivos, …ou que temos mãos de pedreiro.


Outra possibilidade seria a de equiparmos a cauda com um triplo, ou colocar apenas o triplo. É conforme a pessoa se sente mais confortável.


Por vezes perguntam-me se é melhor anzol triplo ou um anzol simples. Na verdade, a diferença pode ser quase imperceptível, e depende muito do restante equipamento. A acção da cana tem uma importância decisiva na nossa escolha. Porque o Ajing, ou o LRF, Light Rock Fishing (um conceito mais largo desta técnica), é sempre feito com canas finas, ligeiras, vamos admitir que não teremos perdas de peixes por a nossa cana ser incapaz de absorver as investidas destes. Queremos sempre o melhor de dois mundos: ter uma cana dura, rápida, precisa, quando se trata de ferrar, e macia, parabólica, elástica, na hora de trabalhar o peixe. Queremos tudo.
Ainda assim, o anzol tem bastante importância na percentagem de peixe que escapa. Se é verdade que a fateixa oferece mais pontos de apoio, mais sujeição do nosso jig ou amostra dentro da boca do peixe, também por outro lado os seus ganchos/ anzóis são normalmente mais pequenos que o anzol simples que aplicaremos quando essa é a nossa opção.
Um anzol simples, de maior tamanho, consegue penetrar melhor, mais profundo, e agarra uma quantidade de osso, músculo, pele, maior. Mas relativamente a pontos de apoio, …é um. O peixe assim que se sente preso, debate-se.
O buraco que o anzol faz tem tendência a abrir a cada esticão dado pelo peixe, e se estamos a pescar carapaus, com uma boca grande mas fina, com muitas zonas apenas com uma simples pele, então as fugas podem acontecer.
E ter carapaus com a boca ferida, rasgada, à solta no meio do cardume não nos dá saúde à pescaria.
O triplo espeta pior, não tão profundamente, mas tem a vantagem de permitir que o peso do peixe por nós içado seja distribuído por dois, ou mesmo três pontos de apoio. E isso pode ser conveniente.
Repito, o resto do equipamento também conta: a elasticidade do fio de nylon, a rigidez da cana, etc. Quanto mais fino pescamos mais discretos, mais possibilidades temos de conseguir picadas, mas também proporcionalmente as possibilidades de rotura aumentam.
Quanto mais tendemos para pescar fino, para os limites inferiores da resistência dos materiais, mais importante é que se pesque com produtos de boa qualidade.


Este é o jig de 5 gr, o qual existe em diversas cores. Os fabricantes seguem valores percentuais, ou seja, de uma infinidade de cores que colocam em teste, aproveitam aquelas que dão melhores resultados. O sistema vai descartando possibilidades até ficarem apenas aquelas que resultam de certeza.


Os jigs podem ser utilizados durante meses, sem perda de eficácia. De tempos em tempos será conveniente mudar os anzóis, porque ao fim de muitos peixes capturados é natural que percam o afiamento.
Lavar o material com água doce quando chegamos a casa é um passo importante para que consigamos prolongar o tempo de vida destas peças. De resto isso é extensivo a todo o equipamento que tem contacto com água salgada.
Os anzóis simples, ou triplos, estão na primeira linha, e dependemos deles para concretizar as nossas capturas. Aguentam muita pancada, mas um dia, teremos de o fazer, há que os substituir.
Já o jig em si é uma peça que aguenta bastante. Os dentes dos peixes arranham a pintura, mas quando esta é boa, aguenta. Os dentes são muito abrasivos, mas o peixe quando se lança a estes enganos, quando toma a decisão de morder, já passou da fase de interrogação, já está para entrar. E mesmo desgastado, com roeduras, com esfoladelas, o jig mantém a eficácia e permite pescar meses e meses.


Aqui uma opção de montagem, que é apenas uma das várias possibilidades. Tenho para mim que estas peças devem utilizar-se de forma simples, sem demasiados anzóis. Afinal de contas, o peixe que não tiver boca para morder um jig minúsculo destes, que não excede 3 cm, também não nos pode interessar em demasia.


É experimentarem. Esta é uma forma de conseguir isca gratuita, em quantidades significativas, e de muito boa qualidade. As cavalas entram a estes jigs com sofreguidão, com a mesma determinação com que as nossas esposas e namoradas se lançam para as montras das sapatarias.




Vítor Ganchinho



4 Comentários

  1. Vitor Ganchinho, é sempre um prazer ler os seus artigos ! é tão raro nos tempos de hoje encontrarmos pessoas que gostei de partilhar o conhecimento ! tenho 58 anos e comecei a pescar há um mês (em miúdo "pesquei" algumas vezes, maioritariamente em água doce, com bolinhas de broa de milho...Vivo em Vila do Conde, mas os meus sogros são de Lisboa, pelo que algumas vezes no ano, estou por aí. Se não for antes, no Natal irei visitar a sua loja e comprar equipamento para este tipo de pesca. Comprei uma cana de 3,05 m, mas já tinha comentado esta semana com um amigo que iria comprar uma cana de 2,4 m. Porquê? precisamente porque com esta medida já cabe na mala do carro, e permite que ande sempre com ela, para dar umas pancadinhas aqui e aí, mesmo no fim do trabalho, uma vez que viajo bastante pelo país! Vou aguardar até ao Natal ! Cumprimentos !

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  2. Peço desculpa, mas na mensagem anterior não me identifiquei ! João Castro

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    1. Boa tarde João Castro. A pesca de água doce, por ser muito técnica, é algo que podemos considerar uma verdadeira escola! Um bom pescador de água doce, é potencialmente um excelente pescador de mar. Fico muito feliz por saber que encontra no blog artigos do seu interesse.
      Relativamente à cana, penso não estar errado se lhe sugerir uma cana "travel". Tratam-se de canas em carbono, com cerca de 2.25, 2,30, 2,40 mts, muito leves, resistentes, e que permitem o transporte em pequenas malas de viagem. Terão cerca de 45 cm, sensivelmente, em 5 secções. Há modelos para vários tipos de pesca, sendo o Light Rock Fishing o mais corrente. Pode utilizar em água doce ou salgada.
      Isso, com um carreto pequeno, tamanho 2000, e uma caixa de amostras e fica equipado para pescar em qualquer lado. Curiosamente a loja vendeu na sexta feira um conjunto para um médico cirurgião. A pessoa viaja muito, por toda a Europa, e no intervalo das convenções e palestras, apetece-lhe tirar umas horas para espairecer um pouco, apanhar um pouco de ar. O conjunto total, de todo o equipamento, pesa menos de 500 gramas, e é facilmente transportável. De resto foi criado para isso.
      A GO Fishing tem sempre em stock vários modelos. As canas travel vêm dar resposta à "estopada" que é ter de pagar a taxa que os aeroportos cobram para manusear os tubos de protecção das canas mais compridas. Assim, vão dentro da mala e não há entraves.

      João Castro, apareça, tenho muito gosto em conversar consigo um pouco. Avise com antecedência, se possível.


      Abraço
      Vitor Ganchinho

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    2. João, pode tentar encontrar um artigo sobre este assunto. Tenho a certeza de que foi publicado um, há uns meses!
      Se não encontrar diga, que o Hugo Pimenta faz uma pesquisa e diz-lhe a data.

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