O SLOW JIGGING - PRINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO - CAPÍTULO 2

Antes de mais, o jigging lento é uma opção de pesca que revela muito sobre o pescador. Pode mesmo ser reveladora de um posicionamento perante o mar, uma filosofia de vida.
Chega-se a pescador de slow jigging depois de ter experimentado muito, de ter pescado muito. Diria que se trata de um patamar de excelência que só alguns irão atingir na sua vida. Pescar desta forma implica muito conhecimento de tudo, de pesca, do peixe, de mar.
São necessárias muitas horas de água, e uma atitude positiva perante as dificuldades que qualquer pesca com artificiais sempre comporta. É o desafio que dá ânimo, é a dificuldade que motiva, e não a captura de mais ou menos peixe.
Desde logo porque a técnica em si pressupõe um desprendimento quase absoluto pela captura do peixe dito “para comer”. Disfruta-se da pesca pela pesca. Quando se atinge esse estágio de pescador, libertar um peixe que deu uma luta tremenda, que nos criou dificuldades, é algo que se faz com naturalidade.

E em que consiste a técnica em si?

Não há um peso de jig específico para que se pratique esta modalidade. Podemos fazê-lo com 20 gramas, ou com 200 gramas.
Nem tão pouco podemos falar de uma profundidade obrigatória para que o sistema resulte. Se quisermos ser eficazes a manusear um jig lento, devemos considerar apenas um factor que me parece útil: o peixe deverá estar descansado, seguro, sentir-se confortável.
Se quiserem, que não sinta constrangimentos em cumprir com as suas rotinas naturais de vida. E isso acontece sobretudo em profundidades superiores aos 20 metros, já com alguma água em cima. Se me perguntarem a que cota eu pesco mais peixes, e considerando que aquilo que faço mais é o jig casting ligeiro, diria que são os 40/ 50/ 60 metros.
Um pescador que trabalhe cotas mais baixas, por exemplo na saída da barra da Ria de Aveiro, a 20 metros de fundo, tem correntes muito fortes, logo precisa de pescar com 80 a 100 gr. Na saída do Tejo, há robalos, mas as cotas são baixas e as correntes muito fortes.
Nessas circunstâncias é esquecer o slow jigging porque esse não é o campo de batalha certo.
Irá obter muito melhores resultados com agulhas, com jigs estreitos e compridos, que descem muito melhor, mais rápido. As derivas são feitas sobre a corrente, e assim sendo, todos os segundos são preciosos, tudo implica uma determinada rapidez de processos.
Apenas no estofo da maré será possível fazer algo diferente disso. O campo privilegiado de acção do slow jigging é outro, é o mundo das correntes médias a fracas, em que o peixe é detectado no fundo, ou a meia água, e ao qual se pode lançar uma “medalha”, um jig em forma de folha larga, equipado com anzóis nas duas extremidades. Mas pode ser feito a 200/300 metros, ou muito mais, sem dúvida.

E porquê um jig que desce lento?! Que falta faz ser mais lento a descer, ou a subir?

A resposta foi dada por um senhor chamado Norihiro Sato. Foi ele quem pegou num conceito que é absolutamente admirável em termos de inteligência:
O predador que se acerca de um cardume, não procura capturar os exemplares que estão mais fortes, mais saudáveis, mais rápidos, mais difíceis de capturar. Porque esses exigem um dispêndio de energia suplementar, um esforço acrescido.
Num cardume, há sempre peixes mais debilitados, ou pela sua idade, ou por qualquer handicap que lhes surgiu. Peixes feridos, mordidos por outros, fracos por não terem comido, etc, etc, existem sempre. Há sempre alvos mais fáceis, e quanto mais fáceis, …melhor!
E esses são aqueles que o predador procura de forma instintiva, os fáceis, os que lhe podem trazer um aporte de energia sem que para isso tenha de fazer uma perseguição interminável. Faz sentido ou não?!
Este senhor, a quem devemos muito, contemplou o mar e pensou de que forma poderia conseguir reproduzir a marcha lenta e intermitente de um peixe forragem em dificuldades. E daí nasceu o slow jigging.
Pensar desta forma é olhar a pesca através de outros olhos, estar noutra dimensão. Porque tudo é fácil e entendível quando já o sabemos. Mas antes disso houve alguém que pensou. E é isso que a maior parte dos pescadores não faz: pensar.
Na verdade, há sempre causas próximas, que nos levam a este ou aquele estado de alma, de interrogação. O sr. Norihiro Sato, a dada altura estava a ajudar um colega de pesca a puxar um peixe. E por isso, deixou a sua cana pousada na amura do barco.
Depois de ter prestado o auxílio a quem necessitava, ao voltar a segurar na sua cana reparou que havia um pequeno atum nela. Esta espécie de atum era, pressupostamente, uma espécie que só podia ser capturada através de speed jigging, ou seja, de movimentos muito rápidos, violentos.
Outra pessoa teria metido o peixe para dentro, e continuava a pescar, sem questionar o porquê daquela captura. Mas o sr. Sato pertence a uma pequena franja de pessoas que pensa.


Norihiro Sato, a pescar. Isso fazemos todos. O que não é igual para todos é pensar a pesca e chegar à conclusão certa.


Muito rapidamente teve a intuição e que afinal não seria necessário fazer culturismo para poder pescar com jigs. Nem se acomodou à ideia de que os peixes só mordem um jig se ele lhes passar próximo, mas em corrida desenfreada.
Afinal de contas, veio a demonstrar-se que o slow jigging é eficaz para um sem número de espécies, desde os grandes corredores do azul aos peixes de fundo. Também foi inovador o conceito de pescar em momentos em que o peixe está menos activo, ou inactivo.
E ainda que é uma técnica que funciona em diferentes condições de mar, com ondas ou sem elas.

Como funciona? Vamos ver abaixo:

Os pequenos peixes, em circunstâncias de menor vitalidade, fazem movimentos irregulares, aleatórios, não coordenados. Sabem que são um alvo, e sabem que devem tentar escapar para uma zona em que encontrem algum esconderijo, um lugar abrigado que lhes permita recuperar.
Mas não conseguem. Frequentemente têm problemas de sustentação na coluna de água, não conseguem manter a flutuabilidade, e por isso, caem no fundo. Têm uma natação irregular, descoordenada. Isso é o que fazem os nossos jigs…quando nós os sabemos trabalhar. No fundo, quando sabemos e temos boas mãos. Há muita actividade, muita acção, que depende em absoluto das nossas capacidades técnicas. Antes de mais temos de entender o mar, conhecê-lo, saber o que se está a passar debaixo dos nossos pés.
Quando os peixes caem, estão a demonstrar uma fragilidade que, no meio ambiente marítimo, é entendida como um chamamento a outros que são oportunistas. Mostrar fraqueza é chamar os…comedores de peixe.

Amanhã vamos ver aqui a forma de pescar slow jigging, os gestos, a técnica.



Vítor Ganchinho



2 Comentários

  1. Boa noite Vitor,

    Quanto mais eu faço pesquisada e estudo o SPJ, mais tenho a certeza de que é uma filosofia, um pensamento e uma forma de estar.

    Para além do inevitável conhecimento técnico, temos de ter senso e respeito pelas nossas capturas, como tudo na vida acho que o SPJ se trata de plenitude e maturidade dento da nossa arte.

    Todos nós já passamos pela fase de apanhar tudo que mexe dentro de agua. Eu pessoalmente não tenho muita experiencia, mas tenho falado com muitas pessoas, tenho feito as minhas pesquisas, tenho feito algumas experiencias e tenho tirado as minhas conclusões.

    Em Portugal temos as condições, mas não temos a filosofia, não temos o pensamento, ainda temos pela frente um longo percurso.

    Grande abraço,
    A. Duarte

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    1. Bom dia António A sequência de artigos dedicados ao tema vai tocar aspectos muito diferenciados, e que eu espero tenham interesse para as pessoas. Gente que nunca lançou um jig, ou porque nunca pescou, ou porque pesca há muitos anos mas apenas com isca orgânica, pode encontrar aqui uma série de explicações. E até alguma motivação.
      Nada me desanima mais que ligarem para a loja para reservarmos um pacote de ..."minhoca".
      Não só não temos nada disso como odiaríamos ter. A pesca a miudezas, a peixinhos pequeninos, não pode nunca ser um objectivo.

      Vamos pelos grandes!


      Abraço
      Vitor

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