DOURADAS COM CAVALA

Há muito deixei de comprar iscas como minhocas, casulos, navalha, etc. Não faz sentido gastar dinheiro inutilmente.
Pesco normalmente com os meus inseparáveis artificiais, sempre à mão, sempre “frescos” e disponíveis. São de tal forma eficazes que, como base, nem me ocorre necessitar de algo mais.
Uma pequena caixa de jigs ou de vinis e cabeçotes de chumbo e já está, estou armado para um dia de pesca. Olhando aos resultados de cada saída, diria que não necessito de mais nada.
E quando, para variar, resolvo lançar mão de isca natural, então que seja aquilo que tenho à mão, gratuito, e que posso conseguir em todo o lado: cavalas.
Dir-me-ão que é simples demais. A verdade é que tudo come cavala, é um isco muito polivalente, barato até onde se pode ser barato, e que está tão disseminado nas nossas águas que estranho seria que os outros peixes não o considerassem na sua dieta alimentar. Mesmo peixes que à primeira vista seriam insuspeitos, como a dourada, ou o sargo, acabam por se render a uma iscada de proteína de alta qualidade, plena de aminoácidos, de gordura. Sem dificuldade de captura, sem espinhos agrestes, toda ela lisa e fácil de comer. E tão fresca quanto aquilo que se pode ser fresco, já que é capturada na hora, onde estivermos. Aparece-nos em bolas de peixe, a uma profundidade que na maior parte não excede uma dezena de metros da superfície, perfeitamente acessível a um pequeno jig de 5 a 10 gramas.
A cavala tem aquilo que todos necessitam, a exemplo da sardinha, mas com a vantagem de resistir bem mais às investidas dos pequenos peixes que tanto nos atormentam.
Espetada a três tempos na pele grossa por um anzol de tamanho médio, desafia os dentes afiados e as bocas pequenas de tudo aquilo que habitualmente “rata” os nossos iscos.
A cavala pois, sem dúvidas.




Os exemplos são tantos e tão correntes que não tenho qualquer dificuldade em vos apresentar um painel de capturas feitas com filetes de cavala. A peixes tidos como mais “desconfiados” por muitos, mas que são tão susceptíveis de ser pescados com cavala quanto todos os outros.
Se é corrente que se pesquem pargos com cavala, ou abróteas, ou safios, ou peixe galo, ou fanecas, choupas, o que seja, também as douradas e os sargos têm muita dificuldade em resistir a um bom naco de cavala, bem apresentado.




Porque tem uma consistência mais rija que a sardinha, podemos trabalhar a iscada de uma forma mais atraente. Teremos à mão uma faca bem afiada, com a qual fazemos um filete da cabeça à cauda do peixe. A seguir, com o jeitinho que Deus deu a cada um de nós, vamos passar a lâmina por baixo das espinhas ventrais, de forma a removermos essa parte menos conveniente. Resulta muito fácil fazê-lo, se não sai bem à primeira sai à segunda e a seguir é fazer sempre igual. Pretende-se uma iscada limpada de arestas e espinhas.
Depois vem a parte de artista: cortar sobre uma tábua fitas finas, de uns 8 mm de largura x 5 a 6 cm de comprimento, (dependendo do tamanho do anzol utilizado), as quais serão passadas três vezes pelo anzol. As pontas ficam soltas, a drapejar, acima e abaixo da prisão no anzol. Não requer um cuidado extremo a esconder o anzol, de qualquer forma, em plena luz do dia será de bom tom tentar não o deixar demasiado exposto. Não tem como falhar. Os peixes vão ao isco uma, duas ou três vezes, até o conseguirem abocar e engolir.




Se acham que é demasiado complicado, e de facto não é, então digo-vos que tenho muitos amigos que levo à pesca pela primeira vez na sua vida e conseguem peixes muito interessantes desta forma. Pescar com isco orgânico não tem muito de complicado, afinal de contas estamos a oferecer ao peixe aquilo que ele come no seu dia a dia. Já sabem que para mim tem menos interesse pescar dessa forma, prefiro obter resultados de uma forma um pouco mais difícil. A pesca para mim tem de ter uma dificuldade acrescida, sob pena de a considerar pouco interessante. Pesca fácil tem para mim o sinónimo de aborrecimento, de “enfardar” peixe, que é algo que não me motiva.
Dou por mim a tentar fazer algo que crie um handicap, que torne a captura mais complicada. Por exemplo reduzindo o tamanho da isca a uma simples tira de peixe, um pequeno troço de pele, algo que me obrigue a “suar as estopinhas” para conseguir enganar um peixe. Mas para quem gosta de ver a caixa composta com muito peixe, …então a receita é a que está descrita acima. É dar-lhe com força!




Temos cavalas na costa todo o ano, basta marcar uma zona onde a sua presença seja mais frequente, ou em que os cardumes sejam mais densos, na zona onde queremos pescar.
Por norma, dedico cerca de 10 minutos a capturar cavala para um dia inteiro. Gastar dinheiro em isca, para quê?! Se estiverem perto da superfície, em cardume compacto, podemos fazer uma a cada 20 segundos, desde que não sejamos muito lerdinhos de mãos a desferrar. Em dias em que estão mesmo encostadas ao barco e com boa disposição, não é impossível aumentar o ritmo para uma cavala a cada 15 segundos, o que dá….4 peixes minuto. Chega?!
Se tiverem dúvidas, eu faço um filme e publico-o aqui.



Vítor Ganchinho



4 Comentários

  1. Só falta a imagem das iscada

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    1. Bom dia Se acha que faz falta, publica-se, mas o critério de iscar cavala é o mesmo de sempre, não há nada de novo.
      Aquilo que deve fazer é aplicar o gume da faca sobre a barbatana peitoral, e cortar até à espinha. A seguir, avança com a faca, sempre rente à espinha, até à cauda. E já tem o filete feito. Pega nesse filete, e passa a faca nas espinhas ventrais, que pode ver facilmente, porque são as únicas que existem. E faz troços de isca de acordo com as suas pretensões: ou utiliza inteiro se a cavala é pequena, digamos 15cm, ou corta a meio no sentido transversal, ou corta a meio no sentido longitudinal. Depende sempre do tipo de peixe que procura e da ambição que possa ter de encontrar um peixe maior.
      Se a intenção é pescar "muitos" peixes, ou seja, se aproveita tudo aquilo que pica, então corte no sentido transversal fitas com 8mm da largo. Mas essa é uma visão curta do potencial que a isca tem...para peixe decente.

      Cumprimentos
      Vitor

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  2. Excelente relato! Nao fazia ideia que as douradas comiam se quer outro peixe. Pensei que fosse mesmo um peixe mariscador!
    Seria possivel postar uma foto da iscada para ver a apresentaçao?
    Comprimentos!

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    1. Bom dia João Duarte

      Claro que sim.

      Vou fazer um filme no próximo fim de semana e coloco aqui.
      As douradas pescam-se com jigs, são predadores activos e muito menos "macias" do que se pensa. Elas atacam peixe com violência, sempre que têm oportunidade.
      Mariscam, mas não hesitam em atacar uma sardinha, uma cavala, um camarão....

      Vou voltar com o filme!

      Abraço
      Vitor

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